E se as flores de maio
desabrochassem enfim
nesta triste cidade?
E se espantassem o frio
a dor, o medo, a angústia
da violência desses dias?
E se este pueril aroma chegasse,
aos lares cerrados, entre as frestas,
das grades, janelas, cortinas, narinas?
E se as abelhas fertilizassem
O pólen, de alguma flor esquecida
que espera em botão abrir-se?
E se, ainda que fosse demasiado tarde,
as ruas florescessem em paz e harmonia,
em gestos, rituais, encontros, sorrisos?
E se os homens se deixassem
levar pelo chamado vital da natureza
que ainda perdura nesta selva urbana?
E se tornassem crianças ou borboletas,
pousando na flor humana que ainda resiste,
na alegria de compartir este momento?
E se esquecessem por um breve instante,
das balas, chagas, grades, medos
e verem a flor do amor desabrochar?
E se as flores de maio
pudessem entoar uma canção de outono
neste sombrio cenário de guerra urbana?
E se cada pessoa reafirmar, a cada momento,
o valor do amor, frente à dor, e buscar (urge)
o sentido pleno da existência humana?.
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em Maio, 1996.