Tributo ao Che Guevara (1928-1967), presente nas mentes e corações libertários.
Che era um revolucionário total. Render-lhe um tributo somente com palavras parece profundamente inadequado, pois as palavras podem perder-se no vento ou no tempo.
Ele se comunicava, de forma direta, mediante ações, e suas palavras eram armas na luta, ás vezes vigorosas, duras, outras tantas poéticas, ternas, mas, sempre sinceras.
O movimento revolucionário teve em Che a expressão mais fiel de um líder, que desprovido de qualquer ambição de poder, lutava pela liberdade humana.
E nenhuma tarefa é mais difícil ou mais urgente que unificar o significado da luta em prol da justiça social e combate sem trégua às desigualdades sociais, em uma frente histórica de reconstrução do horizonte humano. E Che Guevara fez isso de modo singular, levando à radicalidade seu propósito, abrindo mão da própria vida.
Como em tempos ancestrais, os levantes de povos oprimidos pagavam o preço da liberdade com a morte de seus heróis em batalhas, como exemplo histórico a luta do escravo Spartacus contra o império romano.
Che Guevara, com sua incansável estirpe libertária, teve sua vida ceifada em solitária incursão nas montanhas andinas da jovem América, a qual se doou por inteiro.
No Renascimento havia homens universais, grandes na arte, na ciência e na literatura,
e alguns que desafiaram os cânones, como Copérnico, Galileu, Joana D’Arc,
sendo condenados como hereges, por suas “heresias libertárias ou contestadoras do status quo da época”.
A partir do século XX, a política – entendida como o domínio do homem sobre seu próprio destino – cria uma forma real de universalidade. Contudo, a política passou a ser utilizada como forma de dominação e submissão de povos.
Che era decerto o homem universal de nosso tempo, por contestar as formas de domínio e opressão do imperialismo internacional. Esta é a verdade nua e crua.
Hoje, passados mais de 30 anos de sua morte, a imagem rebelde de Che segue viva, estampada nas camisetas e bonés de jovens, e temida por todos aqueles que tramaram a sua morte.
A tormenta da luta de libertação na América Latina, Ásia e África, que ao tempo de Che,
levou a sanguinárias batalhas, se contrapondo aos fabricados golpes de estado e implantação de ditaduras militares na América Latina, na sanha imperialista americana. Pátrias se dividiram, como a Coréia e o Vietnam, além de Angola, com legiões de irmãos combatendo entre si.
Che não se omitiu em seu papel de líder revolucionário, dando sua vida pela libertação desses continentes do jugo do império americano, dando um exemplo sem paralelo de solidariedade internacional.
Seu espírito de solidariedade era de um irretocável compromisso, que sobrevive mesmo nos dias de hoje – 35 anos após a sua morte, que ao contrário do que seus detratores e críticos imaginavam, não consegue apagar sua chama.
E segue ameaçando sem cessar o imperialismo internacional, comandados pelos senhores da guerra, Bush e Blair e seus implacáveis aliados políticos e do mercado, ao qual servem como vassalos da indústria de armamentos, mantendo o monopólio belicista e expansionista.
Felizmente surgem novas legiões de jovens visionários, se alimentam desses ideais que Che soube tão bem construir em sua teoria e práxis revolucionárias, contestando o Fórum de Davos, o FMI e as grandes corporações transnacionais que a cada dia promovem mais desigualdades sociais no mundo, com receitas restritivas que impõem perda de direitos duramente conquistados.
O brilhantismo militar de Che como chefe era produto de sua envergadura moral como homem revolucionário. Ele Sabia que fazer a revolução era uma cruel e penosa prova, para ele e os seus comandados. Mas escolheu esta alternativa sem hesitações, sabendo que o preço da submissão ao imperialismo era incomparavelmente maior e permanente.
Che em suas derradeiras palavras ao Vietnam em luta, profetizou que as chamas que ardiam sobre o Vietnam incendiariam a pira funerária de Washington, a qual veio a se concretizar em diversos ataques a alvos americanos em diversos lugares do planeta e, o inesperado, no próprio coração do capitalismo, no World Trade Center, no fatídico e trágico ataque em onze de setembro de 2001.
Para os países socialistas, Che não era somente um símbolo dos deveres da solidariedade internacional, ele representava também uma renovação revolucionária dentro da construção do Socialismo.
Che nunca se conformou com a acomodação e a burocracia rígida do aparelho de estado stalinista, queria ver a revolução, o socialismo real ser implantado em todos os lugares, ficando ao final, isolado pelo próprio poder vigente da União Soviética.
Che tinha pressa, e o sentido de liberdade do socialismo que buscava se chocava com
o modelo pragmático do estado stalinista. Porém nada expressou tão profundamente a liberdade revolucionária como o autêntico conteúdo da construção econômica do cotidiano.
A planificação para ele, não era um mero instrumento e sim que estava ligada de modo indissolúvel à atividade da classe trabalhadora, era a forma necessária para o domínio do homem sobre seu meio. Che, excluía de sua formulação, todo cálculo mecânico de interesses.
Assim, Che realizou o primeiro plano quinquenal de Cuba, em meio a um país sangrado pelos partidários do tirano deposto – Fulgêncio Batista – e a um bloqueio covarde e brutal americano, que se mantém até a presente data.
Che com maestria se fez revelar um economista prático, aplicador da doutrina
marxista de forma peculiar, preparando Cuba para um duro cenário de manter a liberdade conquistada e avançar para o futuro.
Che fincou as bases do desenvolvimento que Cuba experimentou, apesar do implacável
bloqueio imperialista. A Cuba que Che sonhou hoje mostra em todas as áreas o crescimento e desenvolvimento de um povo que optou pelo socialismo: modelo
de educação, saúde e qualidade de vida, que é ímpar em toda a América Latina e é reconhecido pelos organismos internacionais, como a UNESCO, OMS e UNICEF.
Che não foi nunca mais dialeticamente materialista do que em sua insistência
na primazia dos incentivos morais na construção do socialismo. Era lógico que estivera lutando intransigentemente pela liberação da arte e da cultura de todo processo burocrático de estado.
Para nós, marxistas vivendo em países sob o jugo do capitalismo e imperialismo internacional, Che sempre falou com fraternidade e urgência.
Che não era simplesmente – como muitos admitem de forma simplista – um visionário ou sonhador, ele vivia e sentia como poucos o drama cotidiano dos camponeses, projetando em escalada internacional o sofrimento dos povos dominados, ou seja, ele percebia a realidade e mergulhava nela com o objetivo de modificá-la, de transformá-la.
Assim, Che nos legou com “O Socialismo e o Homem em Cuba”, uma análise completa e contemporânea da exploração e da alienação nas atuais sociedades capitalistas.
Ele soube, como poucos, traduzir em ações concretas o conceito de que a luta de classes contra a burguesia imperialista de cada país era uma frente vital.
O que nós, que vivemos nas grandes metrópoles capitalistas, podemos fazer para manter o ideal de Che?
Devemos ousar lançar uma ofensiva com determinação para minar desde dentro, o sistema atroz e desumano que ele lutou por denunciar e destruir desde fora ou na periferia.
A mensagem da vida de Che, e o significado de sua morte são inequívocos: a revolução é possível, porque é necessária em todas as partes.
A mensagem da vida de outros libertadores, com o mesmo emblemático C… de Che, Cristo, Chico Mendes, é chama que não se apaga com a morte anunciada
ou matada severina – parafraseando o nosso poeta João Cabral de Mello Neto.
O ideário revolucionário plantado em curta mas profícua passagem, por essas e outras excepcionais figuras humanas transcende, e encontra sempre o porto seguro
do coração dos homens, especialmente daqueles mais simples, mais oprimidos.
Eles estarão sempre prontos a lançar sem hesitação a corda enlaçada para ancorar o barco da esperança e da liberdade, e nele adentrarem e singrarem mares, enfrentarem tempestades e lutas, e não deixá-lo mais vagar a esmo pelos mares da intolerância, do ódio, da opressão ou da submissão.
Notas de AjAraújo, o poeta humanista, escritas em 2009, em homenagem aos 35 anos de saudades do grande líder revolucionário Ernesto Che Guevara.Imagem: Alberto Korda ~ Che Guevara com Jean Paul Sarte e Simone de Beauvoir.
Documentos Consultados: Che – Compilação de Textos e Depoimentos, Casa de Las Américas.
Che Guevara, 8 de outubro, 35 anos de uma vida interrompida, de um ideal libertário que se imortaliza.
Imagem histórica: Encontro de duas grandes personalidades libertárias do século XX: Che Guevara e Jean Paul Sartre.