Depressão: quem já não teve?

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Em resposta a uma pessoa que me indagava sobre as expressões “tristeza, melancolia e depressão”.

Ao referir-me à palavra “triste”, entendo como uma sinalização de que algo que não vai bem na vida da pessoa, e que na minha experiência, pode ser algo passageiro ou, até mesmo uma das formas de visibilidade de um estado depressivo.

Os distúrbios distímicos são muito frequentes e, em geral, o senso comum é de rotular alguém como sendo assim assado e não de o de interpelar, acolher, encorajar a procurar ajuda.

A maioria das depressões são “mascaradas” por outros sintomas físicos, levando muitos profissionais a buscarem outras explicações para o mal estar e a estabelecerem outros diagnósticos.

Assim se pode incorrer no erro de tratar de forma superficial este tema e minimizar as suas consequências.

A depressão pode significar algo mais profundo, pois se relaciona com o “holos”, com o todo, não dá para ver o indivíduo como partes que adoecem – este olhar é vago e incompleto – e que precisam ser “tratadas” isoladas do seu contexto mais amplo.

Este envolve a “pessoa como um todo – mente, corpo e espírito”, o meio onde está inserida, seja trabalho, escola, comunidade, estado, país e, as suas perspectivas e projetos de vida.

A depressão há algum tempo passou a ser um dos principais problemas de saúde pública no mundo, mascará-la, duvidar da sua existência ou minimizar os seus sintomas podem contribuir para o seu agravamento, a sua cronicidade e mesmo, o surgimento de quadros de outros distúrbios psiquiátricos, e até mesmo, a auto-privação da vida (suicídio).

Penso que um dos compromissos fundamentais do ser humano é com a preservação da vida, não somente da sua vida em particular, mas do conjunto de outros seres humanos.

Três características nos chamam atenção quando pensamos na espécie humana: os princípios da VULNERABILIDADE, da ALTERIDADE e da TRANSCENDÊNCIA.

O homem, dentre todas as espécies, é o único ser que não consegue sobreviver sozinho após seu nascimento (VULNERABILIDADE).

O homem é um ser relacional, por natureza, e a sua existência está diretamente relacionada à existência do outro, de outra pessoa (ALTERIDADE).

O ser humano sempre é mais, qualquer que seja a sua origem étnica, posição social ou padrão de vida, a possibilidade de sonhar, de desafiar, de transformar, faz do homem um ser em transcendência, viabiliza a eterna busca do desenvolvimento de uma espiritualidade, de alcançar um lugar no cosmos, de transcender a própria vida terrena para um outro espaço de luz e, nela se fundir.

Por isso, acredito que é, antes de tudo, um compromisso, um convite permanente a preocupar-se com o bem estar do outro.

Isto é fundamental para que a nossa evolução, o nosso crescimento, a construção de um mundo melhor para as gerações vindouras, seja perseguido como uma meta cósmica de nossa passagem pela gentil escola que se fez plantar na terra e onde fomos acolhidos nesta breve e intensa escala espiritual.

A depressão pode ser até fonte inspiradora de pintores, poetas, compositores, artistas de modo geral, mas, se não for cuidada pode também destruir (ou levar à auto-destruição) uma pessoa e seus sonhos.

AjAraújo, o poeta humanista, refletindo sobre a depressão a partir de uma orientação solicitada na grande rede, em Agosto de 2003.

Arte por Edvard MUNCH ~ Melancolia (1894)

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