Paciente x Médico, Médico x Empresa: qual o paradigma destas relações?
A banalização da saúde, a promoção da “doença”.
GOSTARIA DE PROPOR UMA RE-FUNDAÇÃO
NA RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE
QUE NÃO FOSSE MAIS UMA RELAÇÃO DOMINANTE
QUE SE TRANSFORMASSE EM EFETIVA PARTICIPAÇÃO.
Que ao invés de paciente, se chamasse atuante,
Que a relação se fundasse nos pilares sólidos da compreensão
Da solidariedade, do respeito mútuo e, fosse assim pactuante
De uma nova forma de práxis médica.
Que se busque todos os meios para minimizar as dores
Mas que os avanços da tecnologia não nos torne credores
De outras dívidas, além do custo social, a da perda da identidade
De cuidador e cuidado, limitados pela venda dos planos de ´saúde´
Desde Hipócrates, o discurso de formatura
De defesa implacável e promoção da vida
Se choca ante aos escusos interesses do capital na doença
Fonte essa de todos os lucros e comércio que tantos nos avilta
A cada dia que passa, é mais desigual o acesso
Às maravilhas modernas na engenharia genética e aos medicamentos
Aos transplantes de células-tronco e avanços da nanotecnologia
Tudo depende de quanto se está disposto a pagar na fatura…
A mercantilização da medicina,
Coloca-nos diante de um limbo
Não mais de um outrora consagrado Olimpo,
Pois esta banalização em agentes de um negócio nos transforma.
Como pode a vida virar um artigo de mercado, uma mercadoria?
Como revitalizar a tradicional relação médico-paciente
Ante aos patamares aviltantes de uma relação médico-empresa
Como cuidar da saúde, ante o paradigma da doença, dominante?
Quando os cuidados com a saúde deixam de ser Dever do Estado
E passam às mãos dos inescrupulosos senhores do mercado
A vida humana se torna um farto shopping de procedimentos
Ditados pela sanha de venda de serviços ´médicos´
Quem estará preocupado com a promoção da saúde?
Quantos de nós avaliamos o custo-efetividade e a real utilidade
De tantas intervenções medicamentosas e cirúrgicas?
Afinal, quanto vale cuidar da vida, em seu sentido pleno?
Afinal, o quanto isso é prioridade
Para discutir em nossa sociedade
Impregnada por valores de consumo?
Ou para os empresários, agentes públicos, governo?
Enquanto isso, o paciente
Não consegue sair das teias que cerceiam sua alteridade
Submetendo-se compulsoriamente aos elevados custos
Da fatura mensal, comprometendo seus recursos parcos
Porquanto, nós médicos
Nos submetemos aos ditames do mercado dos planos e seguros
Abrindo muitas vezes mão de nossa própria dignidade
E afinal acabamos como cúmplices do mesmo sistema que oprime.
Urge mudar este quadro
SAIR DA RELAÇÃO MÉDICO-EMPRESA ULTRAJANTE
PARA UMA RELAÇÃO MÉDICO-PESSOA EDIFICANTE
Em outro paradigma, da ética e do valor humano.
Hipócrates certamente baterá palmas para tão ousada iniciativa
De médicos, professores, ´consumidores´, políticos, governantes
Que a clausula da Constituição, saúde como direito de todos
E obrigação do Estado, não seja apenas pétrea como dantes…
AjAraújo, o poeta humanista, escrito em fevereiro de 2007.