A pipa passeia o sonho

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Segurava,
um livro aberto,
com a mão,
mas seus olhos,
lá não estavam…

Oscilava,
as folhas em Trento,
mas em vão,
só em Abrolhos,
lá enfim mergulhavam

Empinava,
a pipa ao vento,
só então,
sonhos andarilhos,
no céu se encontravam…

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 18 de maio de 2016.

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Jardim de flores estelares

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o que é o universo
senão um jardim
de flores estelares

o que é o universo
senão um jardim
de seres estelares

o que é o universo
senão um jardim
de deuses estelares

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 2-1-17.

Arte por Cyril Rolando ~ Virgo

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O bêbado e os sinos

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Havia uma torre
Os sinos badalando, eco magistral
Na esquina um homem em porre
A cabeça girando, beco marginal

Havia uma certeza
Os sinos têm hora pra badalar
Nos bares sem hora pra fechar
Os donos servindo, com esperteza

Havia uma incerteza
Por quem se dobram os sinos
Na esquina, em ressaca, levanta-se em fraqueza
A gente passando, com olhares vazios

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 28/1/08.

Arte por William Hogarth ~ Beer Street (1751)

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Ah, esta dor!

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Chorou!
Mas não revelou
a dor do core.
Ah, esta dor
que consome o corpo,

Decorou!
Mas não declamou
o esperado texto
Ah, esta dor
não estava no contexto

Tentou!
Mas não segurou
a barra no coreto
Ah, esta dor
não estava no libreto

Esperou!
Mas não aguardou
tocar a sirene
Ah, esta dor que abafa,
oprime o canto de cisne

Apagou!
Mas não ouviu,
da platéia, o lamento
Ah, esta dor que leva,
redime o sofrimento

Subiu!
Mas não ficou,
para ouvir o canto de ossanha
Ah, esta dor que se foi,
fez da morte uma façanha.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em outubro de 2005.

Arte por Peter Paul RUBENS ~ Massacre dos inocentes, 1611.

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Solidão na caatinga

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Só, e somente triste
Longe de meus entes,
de meu viver, perene
Distante aos olhares

de remoto povo,
em distante povoado
A voz se consome, calo
na angústia que sinto.

Só, e somente triste
Lá se foram meus ideais
Os sonhos – nada há mais –
A vida? Não mais me pertence

Nas buscas, nos caminhos
Do Ceará que percorro, Orós,
Na terra do Patativa do Assaré
Nas serras, caatinga, no agreste

Só, e somente triste
Próximo de minhas raízes
Em São Francisco do Canindé
Busco entender os contrastes

O porquê de tanta pobreza
Em meio à tantas riquezas…
um país onde tudo vinga
basta uma fugaz chuva,

Onde o rebento, de teimosia,
cresce protegido no ventre
– do mais puro sisal, agave –
fibra da mulher nordestina,

Ao chegar a Altaneira,
A grande acolhida na praça,
Espanta a solidão e a tristeza,
Hei de superar com a garra,

… deste povo nordestino!

AjAraújo, o poeta descreve sobre a longa jornada para chegar ao agreste do Ceará, na região de Juazeiro do Norte, Crato e Altaneira, durante o Projeto Rondon, em Janeiro de 1977.

Arte por Antônio Matias Souza.

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Solidão das cidades

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Quem sou,
se ora sou nada
ora tudo sou,
chama que acende
vela que se apaga

Quem sou,
folha solta
no ar,
janela aberta
ao tempo.

Quem sou,
grão de areia
poeira cósmica
energia
e massa

Quem sou,
peregrino
no deserto
d´alma
ecoa

Quem sou,
solitário
caminhante
ruas desertas
praças vazias

Quem sou,
nas marquises
escapando das gotas
da chuva fina
das poças na calçada

Quem sou,
que se aventura
na noite escura
no retorno pra casa
no ônibus ou trem da agonia

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 28 de março de 2012.

Arte: Leonid Afremov, “The colors of winter”.

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Raízes

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A minha viola nordestina
tem um cantar triste
como o da ave acauã,
que dizem bonito ser.

Canto tristezas, esperanças
nas minhas longas andanças.
Que quase sempre morrem
por falta d’água no sertão.

Tenho uma garganta
rouca de repentista
que de tanta sina
virou seca nordestina.

O ronco do estômago
de tão faminto,
é o que dá ritmo
às minhas músicas.

A minha viola modesta
molesta os coronéis de bota
e espora. que cravam
em minha língua ferina, ferida.

Era preciso formar um só som
com todas as nordestinas violas
deste país, onde ao norte,
fica a noite e a morte.

AjAraújo, em homenagem ao grande músico Luiz Gonzaga, escrito em Maio de 1976.

Arte por Léo Costa ~ Violeiro do Sertão

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Árvore da democracia

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Árvore da Democracia,
Tu geras os filhos da liberdade,
Tua seiva alimenta a diversidade,
Teus galhos amparam a pluralidade,Tuas folhas respiram o ar da vitalidade,
Tuas flores perfumam pura jovialidade,
Tua copa dá sombra com generosidade,
Teus frutos amadurecem com felicidade.

Árvore da Democracia,
Mas, tu precisas ser plantada,
Com sementes do amor-perfeito,
Combata as injustiças e iniquidades

Tu necessitas ser cuidada,
Para extirpar as ervas daninhas do ódio,
Combata sem trégua a intolerância
E as desigualdades, abismo social

Árvore da Democracia,
Tu precisas ser irrigada,
Com água da fonte da boa esperança
Que combata a sede, a fome de justiça

Tu necessitas ser fertilizada,
Com o adubo da paz e da benquerença
Que combata o egoísmo e a indiferença
Mas que nunca abdique da luta…

AjAraujo, escrito em 3 de abril de 2016.

Arte por Piet Mondrian “the red tree”

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Néctar

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Néctar
Que provem
Da pura seiva
Emana da fonte interna

Néctar
Que adentra
Em tua fenda
Sorve a fonte externa

Néctar
Jorra com a carícia
Terna e vigorosa
Deslizar de loucos digitais

Néctar
Da abelha estival
Nos favos de dois corpos
Conjunção febril da paixão

Néctar
Feito manjar dos Deuses
Escorre em teus lábios carmim
Mel de teus seios tesos

Néctar
Nos suores das lutas travadas
Pelas sensações mais profundas
Tomada destes solos pela espada

Néctar
No âmago do desejo
No clímax do prazer
No deleite do corpo vencido

Néctar
Como lava quente espalha-se
Nos arquipélagos mais recônditos
Do sexo tomado pelo vulcão

Néctar
Na calmaria
Dos corpos guerreiros inebriados
E cansados da doce batalha…

AjAraujo, o poeta humanista.

Arte por Cyrill Rolando

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Retina do amor

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Que existam os sons,
murmúrios assim,
que o batom carmim,
dê marca aos tons
que os doces lábios

em desejos loucos
balbuciem os verbos
olhar, flertar,
querer, amar…

Na paisagem, os mirantes
onde se desnuda o viço
e arrebatada paixão
entre furtivos olhares

se atraem os amantes
nos imãs das marés
na praia da retina,
na ressaca dos mares

Asssim, nos encontramos
a cada novo dia, brindamos,
Mudamos nossos trajes,
respiramos outros ares

Navegamos outros mares,
são eternos os prazeres
Adormecemos na sensação
doce melodia emana do coração…

AjAraújo, o poeta humanista.

Arte por Cyrill Rolando.

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