Era um tempo de andar pela cidade

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Era um tempo…
de andar pela cidade
de ouvir o apito
da fábrica de papelEra um tempo…
de sentir o aroma
das flores nos jardins
bem cuidados da vila

Era um tempo
de ver dezenas de bicicletas
em um constante ir e vir
pelas ruas de paralelepípedo

Ah, como era difícil pronunciar
esta palavra, de vez em quando
me tachavam de gago, língua presa
mas não tinha gagueira, tinha vergonha

Era um tempo
de um medo incompreensível
tinha uma timidez incorrigível
agravada pela insegurança

Mas, ao chegar à banca
de jornais e revistas do Adamastor
meu semblante se iluminava
a ciência cedo me despertava.

Era um tempo
de trocar gibis, colecionar revistas
das histórias favoritas em quadrinhos
Mandrake, Fantasma, Tarzan, Mickey

Ao mesmo tempo…
folhear a revista Ciência Ilustrada,
o encantamento das naves espaciais,
de Yuri Gagarin a Neil Armstrong

E assim a vida ia passando,
os anos de escola preparando
para algo até então inimaginável
tornar-me médico e servir a humanidade,

A qualquer tempo,
a qualquer pedido,
pois o sofrimento não tem hora
nem dia para se manifestar.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito na páscoa de 2011.

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No caminho havia uma dormideira

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Dormideira no caminho da Lavoura
ao longo do velho Valão, passava
bem cedinho, inda menino
pra Santanésia, época de inverno

Serração, forte cheiro
de mato verde, eucalipto,
toco a dorme-dorme
ela logo se encolhe

E escorre o orvalho
de suas folhas, um choro
de criança na manhã fria,
o sol inda espreguiça

E suja de barro, a conga de lona
tenta livrar-me dos carrapatos
nesta antiga trilha de cavalos
lembrança doce da minha infância…

AjAraújo, poema escrito em 20 de novembro de 2014, lembrando do caminho da Lavoura para Santanésia.

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No primeiro sopro de vida, Tu lá estavas…

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Na primeira respiração
senti o Teu sopro vital
abrindo meus pulmões,

No primeiro choro
senti o Teu sorriso celestial
enxugando as lágrimas vertidas.

Na primeira mamada
senti o Teu manto protetor
sobre a seiva que me alimentava

Na primeira cólica
senti a Tua mão sobre meu ventre
acalentando e aliviando a dor

Na primeira noite de penumbra
senti a Tua presença sobre meu berço
espantando os fantasmas do sonho

Na primeira manhã de luz
senti a Tua energia sobre meus olhos
abrindo-me as pálpebras para ver o mundo

E assim, tem sido, Companheiro
em cada momento de minha caminhada
dos Teus pés, calço as sandálias da Galiléia

Nos instantes de fraqueza,
Só Tu me ergues, me mostras a Fortaleza
Onde posso descortinar a minha humaneza

A Ti, Senhor de misericórdia
Que buscas a paz e a concórdia
Que com amor combates a discórdia

A Ti, Senhor nascido em uma manjedoura
Que ensinaste aos sacerdotes na Sinagoga
Que limpaste o Templo dos vendilhões

A Ti, Senhor Jesus Cristo,
Reverencio em profundo silêncio
Na dor e sofrimento que Te tornaram humano…

Pois, que tudo emana
do amor de Ti, Cristo.
por isso Te respiro e vivo.

AjAraujo, o poeta humanista, poema escrito em louvor a Jesus Cristo, por ocasião da semana santa, em 5/4/2012.

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Viva com generosidade – tributo ao profeta Gentileza

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Eu não estou bem certo…
Se a vida é demasiado curta
Ou longa demais para nós.

Todavia acredito, que nada
Do que vivemos terá sentido,
Se não tocarmos o coração
E a alma das pessoas.

Muitas vezes basta ser tão somente:

O colo que acolhe no sofrimento,
O braço que envolve em um abraço,
A palavra que conforta na algia,
O silêncio que respeita o momento,

Alegria que contagia,
Que faz brotar o sorriso,
Lágrima que escorre na face,
E o lenço que enxuga e recolhe,

O olhar que acaricia, que serena
O desejo que sacia, que alimenta
O amor que o bem promove,
Que o ser humano ergue.

E isso não é coisa de outro mundo!

É tão simples, não é verdade?
Mas, o egoísmo vem e trava.
A gentileza, a generosidade
É o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não
Seja nem curta, nem longa demais,
Mas que seja intensa, verdadeira,
Uma janela para a eternidade,

Em experiências e aprendizados,
– Nesta breve passagem terrena –
Enquanto ela te permita,
Não importa o quanto dure…

AjAraujo, o poeta humanista, poema exortação escrito em 2002, revisado em 2016.

Imagem rara do profeta Gentileza, embaixo das pilastras do viaduto da Perimetral, centro do Rio.

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A hora da partida

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É a hora mais dramática
– única certeza na vida –
Mas, nem por isso pensada
Na curta trajetóriaNa cultura oriental
Um momento de contemplação
Na cultura ocidental
Um instante de completa emoção

O mistério do viver
Se inicia no prefácio
O epílogo no perecer
Se completa no epitáfio

O modo intenso de vida moderna
Não combina com a ideia de morte
Tecnologias prolongam a expectativa
De viver, em meio à luta contra o limite

Qual será o sentido da existência
Nesta curta passagem na escola terrena?
Afinal, o que nos leva a tanta acumulação
De bens materiais na espiral de especulação?

Diante da perspectiva da morte
Pouco adianta jogar os dados
Cartas, tarô, búzios,
Ou culpar o destino, azar ou sorte?

Na verdade, se nasce perecendo
No relógio – tempo de uma contagem regressiva
E os segundos, minutos, horas vão passando
Sem perceber o real significado da existência…

Nascer, viver e perecer
São infinitivos de verbos
Consagrados de Tebas a Biblos
Na história de lenta evolução espiritual do ser…

AjAraújo, o poeta humanista, aborda o tema da morte (transição), escrito em 16/10/09.

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Solidariedade

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Abraços que nos prendem
Laços que nos unem
Lenços que nos rendem
Aços que nos acorrentem

São fortes como os laços
são resistentes como os aços
são frágeis lagrimas para os lenços
são seres humanos para os abraços.

AjAraújo, Abril, 2002.

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A condição humana

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É na perspectiva da dor
que mais se percebe o sentimento
de quanto é frágil o ser humano

É na perspectiva do amor
que mais se fortalece o sentimento
de quanto é sensível o ser humano

É na perspectiva da vida
que mais floresce o sentimento
de quanto é vulnerável o ser humano

É na perspectiva da morte
que mais amadurece o sentimento
de quanto é transcendental o ser humano.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em dezembro de 2010.

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Queria apenas falar de um Natal…

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De um Natal que simbolize
O gesto largo e espontâneo,
o sonho de um certo Dom Quixote,

De um abraço fraternal que valorize
Os laços solidários,
dos povos de Jerusalém e, de Cabul a Belize

De um Natal que não apenas retrate
O consumo fatal – inevitável
mas, que a estrela de Belém resgate

De um sonho abissal, ao radiante despertar
No espírito universal, transcendental
da chama no coração-criança a libertar

De um Natal que renove a fé,
esperança e doação, em melodia e madrigal,
na vinha e no pão,na humana comunhão…

Queria apenas falar
de uma criança a sorrir,
Que abrisse, no amanhã, os portais

Que acenda,
nos labirintos, os castiçais
Que conduza a humanidade para um novo por-vir…

Que este Natal represente um momento especial
em suas vidas e, naquelas
que encontram ou cruzam seus caminhos,

Que possam sentir-se como parte indivisível
da grande espiral universal
prontos a se transformarem em elos
desta corrente que move moinhos.

AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito
no Natal de 2005, dedicado a todos que através da arte da palavra escrita, falada, declamada contribuem para o contínuo desenvolvimento da espiritualidade humana.

Arte por Damião Martins ~ Don Quixote

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Amigos – o melhor presente de Natal!

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Meus Amigos, este Acróstico é muito especial,
É o meu presente de Natal…

M ais um ano se finda,

E o Natal se aproxima,

U ma data que se repete

S imbólica, envolvente.

A nuncia um re-nascer!

M esa posta, pão e vinho,

I magem de presépio, Deus menino,

G estos de paz, mãos abertas, re-fazendo,

O s laços, de doar-se, de abrir os presentes,

S orrir, de se solidarizar como irmãos humanos.

F estejar a ceia, a reunião,

E ncontro dos entes queridos,

L embrar dos ausentes, dos chamados,

I nventar sempre uma razão ou emoção,

Z elar pela harmonia, união, comunhão.

N este Natal se fortaleça o terno abraço

A amizade, os valores, a crença na mudança,

T al como se fora uma dança cósmica,

A stros – pessoas, que brindam anunciada chegada,

L uz de Belém que se projeta na vida do outro.

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Aos meus diletos amigos (as), companheiros de lutas,
Presentes em tantas jornadas pela vida afora,
Saibam que o meu melhor presente de Natal
É a semente da amizade, cultivada e irrigada,
Com o fermento disseminado por nossas mãos,
Com a água vertida de nossas lágrimas,
Com a luz refletida em nossos olhares,
Com a pulsão de vida de nossos corações,
Com a força e conforto de nossos abraços,
Com os ares renovados de nossos pulmões,
Com o sentido de direção de nossos passos,
Com a mente aberta para os novos desafios.

E queiram saber que tudo isto é recíproco,
Só se pode doar aquilo que verdadeiramente se tem.

Feliz Natal e um novo ano de 2015, renovador, pacificador,
agregador e, acima de tudo, realizador dos sonhos de cada um de vocês!

AjAraújo, médico e poeta humanista, escrito em 18 de dezembro de 2010.

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Versos em guardanapo

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Mania antiga
Marca de encontros fugazes
de amigos hoje distantes
cruzamentos de vidas,
quanto fui testemunhaBrincadeiras de palavras
Em meio a brindes, risos
em tardes relaxantes,
improvisos na virada da tarde
para as noites enluaradas

Mesas invadindo as calçadas
– no bar Amarelinho –
Piadas, contos, histórias
de noites de boêmias

A realidade social,
política e pobreza, debatidas
Entre amendoins, flores,
bilhetes lotéricos e acrobacias…

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em Março de 2009.

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