Conversas à beira do poço Brasil (1) – a corda

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Genildo, ilustrador.

– E aí, já chegou? Falta pouco?
* Que nada, cara, o fundo do poço
está longe, morou…
– Sem piada, já não bastou
o tropeço da economia, o sufoco,
e você ainda fala neste tal de moro…
– Calma, parceiro,
não param de mandar os anéis…
* Que droga de anel são estes?
– Você sabe, vai cavando,
chega a uma determinada profundidade,
vem o anel da reforma da educação,
só aí foram da geografia, história, filosofia
agora vem o anel da reforma da previdência
depois da privatização do aquífero Guarani
sei lá onde vou parar com tanto anel, daqui
não consigo enxergar o fundo do buraco
– Quer que eu dê mais corda?
* Pra que, se não vou ficar na borda?
– Então, onde acha que isso pode levar?
* Acho que vai cair direto no Texas
As petroleiras aproveitam o buraco
e drenam todo o pré-sal, que será
o último anel…
– Mas e o Trump como fica nessa?
* Eles querem mais é “se dar bem”,
meu caro. Manda a corda,
senão um coiote ainda me pega
na fronteira do muro…

AjAraújo, o poeta humanista, sátira política inspirada na charge “O que ainda está por vir?”, de Genildo.

Arte por Genildo, ilustrador.

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Se ela não enxerga, quem irá nos enxergar?

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Proseando ao pé do Congresso – sobre esta tal de lei…
– Afinal, que palavra complicada esta, hein compadre?
* Pois então, ela só se aplica pros inimigos.
– E não é? Veja só ela já começa com
L… de ladrão,
E… de espertalhão
I… de impunidade…
* Boa interpretação, compadre. Repara que
quem faz a lei, é o parlamento e os de-putados
são os primeiros a descumprir, logo criam outra lei…
– E você ainda me pergunta pra que serve a lei?
Ora, ela serve pra te proteger,
e das merdas que faz te defender,
claro, se você tem poder,
grana e tráfico de influência.
* Então se entendi bem, quer dizer que
a lei foi feita para pobre?
– Isso mesmo, percebeu né?
Para quem não tem cobre…
* Mas e tal da dona justiça, não tem nada
a ver com isso? Esse tal de foro privilegiado etc.?
– Ter, deveria por dever de ofício, mas coitada
anda com catarata precoce, com a vista blindada,
parece personagem do “Ensaio sobre a Cegueira”
do José Saramago, Nobel de Literatura.
* É, compadre, se ela não enxerga,
quem irá nos enxergar???

AjAraújo, o poeta humanista, sátira escrita a partir da observação de uma charge de humor política.

Arte por Alexandre Oliveira, ilustrador.

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Árvore-vida

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Semente que vai brotando
Esperança que vai nascendo
Rebento que vai desenvolvendo

Nascente que vai surgindo
Criança que vai amanhecendo
Momento que vai eternizando

Árvore que vai crescendo
Dança cósmica que vai bailando
Soneto que vai formando

Core que vai batendo
Lança que vai penetrando
Sonho que vai acontecendo.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 14-maio-2012, sobre o sublime momento da gravidez.

Arte: autoria desconhecida.

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A ponte dos teus olhos

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No arco da ponte de teus olhos,
circulam barcos, pescadores, 
Nas retinas desses olhares,
passam correntes, sonhos

Água cristalina, que se verte
em lágrimas, ora em flerte
Deste rio, inesgotável fonte
de vida, amor e de gente…

AjAraújo, poetizando sobre uma imagem em uma manhã chuvosa de domingo, 13-nov-16.

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Viver sem tabaco

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Viver!
Sem ter
Que precocemente perecer
Nem esperar sofrer
Ao envelhecer…

Viver!
Libertar o ser
Da névoa que impede ver
A qualidade do viver
Ao depender…

Viver!
Renovar a cada amanhecer
Sem precisar padecer
Nem temer
E alcançar o teu entardecer…

Viver!
O aroma vital perceber
Puro ar nos alvéolos percorrer
E das tragadas esquecer
E buscar o teu renascer…

AjAraújo, o poeta humanista, poema escrito para as atividades comemorativas do Dia Mundial sem Tabaco, 2004.

Arte surreal e ilusionista por Vladimir Kush, pintor russo.

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Oração por uma vida saudável

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“ Não é a oração que falha, é a falta de fé e de crer que a mudança é possível, é o que nos leva a inércia, e nos impede superar os desafios ao longo da estrada da vida. ”

Concedei-me Senhor!
Que eu possa alcançar a graça,
De permanecer sem a fumaça
Do cigarro por mais este dia.

Dai-me forças Senhor!
Para que em mim se desfaça,
Qualquer ato, atitude ou crença
Que me impeça desfrutar esta alegria.

Permita-me Senhor!
Compreender as diversas razões,
Que me levaram à dependência
E a tornar minha vida tão vazia.

Concedei-me Senhor!
Trilhar novos caminhos e emoções!
Que me conduzam a encontrar
E a descortinar o que não via.

Dai-me forças Senhor!
Para que confirme a cada sol nascente.
Que o milagre da vida em mim se opera.

Permita-me enfim Senhor!
Aceitar que o cigarro apaga lentamente minha chama
E que sou o responsável por cuidar da minha natureza humana.

AjAraújo, o poeta humanista escreve uma oração para ajudar as pessoas que são dependentes do cigarro a se manterem abstinentes, escrito em 10/9/04.

Arte por Rafal Olbinski, pintor surrealista polonês.

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O menino e o crack

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Psiu!
Não acorde o menino
embalado no sonho
de uma roda de pião
de uma bola de meião

Psiu! Psiu!
Deixa o menino
dormir o sono encantado
na cantiga da velha Sinhá
na barca do velho Simbá

Psiu! Psiu! Mas, que coisa, sô!
Não bole o menino
enrolado no papelão da tevê
embandeirado pelo Brasil que não lhe vê.

Psiu!
Vede o triste menino
cheirando o solvente, o crack
logo ele que sonhou ser craque

Psiu! Psiu!
Não deixa o menino
seguir iludido na esteira da cola
murchando no deserto da rua

Psiu! Psiu! Não banca o indiferente, sô!
Pois, inda há um menino
que mora dentro deste coração humano
que pode salvar um menino suburbano.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em 5 de maio de 2010, sobre um fato real.

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Uma estrela não parte, brilha! (para Marisa Letícia)

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O vento sopra,
a pipa de menino,
aos céus eleva-se

O vento sopra,
os sonhos de menina
aos céus eleva-se

Subitamente apaga-se
a chama dançarina
da vida de Marisa

Lentamente apaga-se
o que restava de ética
na pira de ódio e raiva

Só brilha quem tem luz
quem luta por justiça,
mudança e paz social

Só trilha o caminho
da verdade quem não teme
e enfrenta as infâmias, injustiças,

A chama de tua estrela
jamais se apagará da memória
está encarnada na bandeira petista

Tu e Lula, despertaram os sonhos
de um Brasil abandonado, explorado
para uma minoria em berço esplêndido

Vai Marisa, desfralda esta bandeira
de esperança, no país que agoniza
para o povo acordar deste pesadelo

Segue Lula, inspira-te em Marisa
tua eterna companheira, escudeira
para os sonhos vencerem este tormento

A brisa da noite chega,
Um olhar no horizonte,
E lá estás, brilhando

Estrelas só surgem à noite,
Iluminam o caminho de trevas
Nos dar coragem pra seguir viagem

O “Brazil” entreguista resultante
do golpe midiático-judicial
é o que tem a temer a colheita

Dos frutos malditos da intolerância,
gerados pelas sementes do ódio
do fascismo que plantaram…

Enquanto tu, Marisa, só deixastes
bons exemplos, e ainda doastes
teus órgãos para manter a  vida

Esta mesma vida reprimida
querias deste ódio ver redimida,
digna, solidária e fraterna

Viva Marisa, tua morte prematura
Não será em vão, não calarão a Lula
Não nos renderemos, não passarão…

AjAraújo, o poeta humanista, poema dedicado a Dona Marisa Letícia, esposa de Lula que nos deixou precocemente aos 66 anos, vítima de um AVC. Escrito em 5 de fevereiro de 2017.

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O poeta que protesta

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sou o poeta
que protesta,

que não se contenta
com quem não enfrenta

sou o poeta
que detesta,

que não se abala
com quem não luta

sou o poeta
que atesta

que não se atrela
com quem não presta

sou o poeta,
que testa,

que não se cala
com quem não confronta.

AjAraújo, o poeta humanista, em homenagem ao poeta Walt Whitman, escrito em dezembro de 2016.

Imagem: Passeata de protesto em São Paulo, 2016.

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O que sobra?

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tudo passa,
é bom que passe,

se pouco fica,
é bom que desapegue,

se nada sobra,
é bom que perece,

mas se algo sobra,
é bom que recomece…

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em janeiro de 2015.
Arte surreal por Pieter Van Tonder

 

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