Álcool, carro, velocidade e poder – uma combinação funesta!

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Modus operandi versus Modus vivendi, o que buscamos?

A lei 11705/2008, com o codinome de “Lei Seca”, ainda que não seja a ideal, significou um passo adiante na preservação do maior patrimônio humano – A vida e não “o carro” e as conseqüências funestas de suas estreitas ligações com o “falso poder” de quem pensa ter ao tomar assento na direção de um veículo, alcoolizado (em qualquer freqüência e volume) e embalado pelas baladas (muitas vezes adicionada a doses de outras drogas) protagonize as cenas bizarras de destruição da própria vida e a de outrem, na irresponsabilidade e impunidade que até então vem se caracterizando em nosso país.

Segundo dados da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET), o consumo de bebidas alcoólicas é responsável por 30% dos acidentes de trânsito. E metade das mortes, segundo o Ministério da Saúde, está relacionada ao uso do álcool por motoristas. Diante deste cenário preocupante, a Lei 11.705/2008 surgiu com uma enorme missão: alertar a sociedade para os perigos do álcool associado à direção.

Esperamos que esta lei pegue, e que ao ser punitiva possa atingir os crônicos infratores, abusivos diante do consumo do álcool e do excesso de velocidade, alguns psicopatas, outros dependentes, muitos narcisistas, exibicionistas de um poder que se acaba na primeira curva ou no primeiro poste ou pobre árvore que “freia”, ainda que de maneira trágica, suas pulsões de morte.

Para onde caminhamos ao conduzir os nossos veículos, ruidosos – nas buzinas e alto som a desancar a nossa impaciência com o caos do fluxo -, velozes – nos sonhos embalados da fórmula 1 e da mórbida necessidade de ultrapassar o outro a qualquer custo – raivosos – feito projéteis, mísseis a atingir pedestres nas faixas dos semáforos, avançando sinais, invadindo calçadas – sarcásticos – incapazes de admitir o erro, ainda que todas as evidências apontem em contrário, afinal só foram algumas “doses”. Ou, mais grave, fugindo da avaliação dos teores de álcool (teste do bafômetro) e, ainda tentando burlar os resultados com a realização do exame no dia subsequente ao acidente, como foi noticiado pela imprensa recentemente com autoridade com notório conhecimento sobre a lei.

Sempre que me deparo diante de um carro, vejo com dois olhares, de um lado, a cruel necessidade dos tempos modernos de se adaptar ao “Just in Time”,

– de não “perder o tempo” que nos faz acelerar nossos sentidos, despachar o senso crítico e responsável, correr e chegar a qualquer custo ao local predestinado,

– que paradoxalmente, cada vez mais, se torna alvo intangível tal a quantidade de carros nas avenidas; e a sensação de “aventura”, de adrenalina que se impõem pessoas tão jovens de dirigir a altas velocidades,

– participar de “pegas”, fazer manobras arriscadas, tudo em prol de uma sensação de vitória, de “passar” o outro,

– de exibicionismo ante os pares e, que irremediavelmente vem acompanhada de “envenenamento de motores” e de “mentes”,

– afinal o álcool não é mais só combustível do “auto-morte” (poderia ser chamado o automóvel, pois, neste caso serve menos para mover o indivíduo para uma necessidade de vida e, muito mais para uma procura da morte),

– mas da autodestruição do ser humano, embalado por belíssimas mulheres e situações, a publicidade atinge (tal como ocorre com o seu primão-irmão tabaco) a milhões de jovens no mundo a entrarem em “ritmo de uma aventura” que lhes custa a própria vida.

Este convite para reflexão é, mo permita adicionar, um convite também para a ação, para a implacável cobrança de que a justiça seja ágil e severa e, não parcial e leniente com os criminosos do trânsito.

Um convite também para que todos nós sejamos mais firmes em nossos papéis educadores de nossos jovens ainda em flor, para que não nos deixemos envolver no clima sedutor de suas fantasias (e mesmo, das nossas) de que por um “pouco de velocidade” e “emoção” na vida de nossos rebentos lhes trará mais autonomia, confiança e segurança, quando a trágica experiência tem revelado exatamente o contrário.

Esta sangria desatada, associada a um padrão consumista sem limites, está levando precocemente de muitos lares, os filhos de uma nova geração (haja vista a mortalidade e incapacidade na faixa de 14-29 anos) e, “quando chamados” por uma Consciência Superior a explicarmos o porquê certamente não poderemos culpar o destino ou uma “zanga ou punição divina”, o que aqui plantamos colhemos, nesta ou nas gerações que nos sucederem.

Os tempos contemporâneos de um modo assaz, como em nenhuma outra época da humanidade, nos incitam ( ou excitam) ao consumo, a busca sem rumos, o prazer efêmero, ao individualismo, à competição, à destruição (do planeta e do semelhante), à opção por um modus operandi ao invés de um verdadeiro modus vivendi.

O que significa felicidade em nosso inconsciente coletivo, diante de tantos mecanismos “compensatórios” através do desabrochar de nossas compulsões mórbidas e do declínio de nossas pulsões de vida?

Eu não tenho esta resposta, mas pensar em ser feliz e buscar fazê-lo de uma “forma sustentável” em respeito à nossa intrínseca e extrínseca natureza, pode ser uma das vias de superação desta crise de identidade humana.

Sejamos mais humanos (e dependentes de humanos) e menos egoístas (mais solidários), e racionalizadores no uso dos recursos tecnológicos para que eles tão somente nos sirvam para dinamizar as nossas vidas e não dinamitá-las na primeira curva da estrada do que seria vida.

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Reflexões sobre a “Lei Seca”: Ensaio que escrevi sobre os paradigmas e reflexos da alteração das recentes alterações introduzidas no Código de Trânsito Brasileiro ditadas pela lei federal 11.705, recém promulgada, em (19/6/2008) e sugerir, se possível, a sua publicação neste excelente boletim que nos mantém atualizados sobre o que acontece em nossa área.

Esta legislação, ainda longe de ser a ideal, significa um grande avanço na preservação do maior patrimônio humano – a vida e não “o carro” e as conseqüências funestas das estreitas ligações com o “falso poder” de quem pensa ter ao tomar assento na direção de um veículo embalado pelas baladas e álcool em qualquer quantidade.

É preciso agir e com a rapidez de nossas ações em contraponto a dos motores movidos a álcool do automóvel e seus senhores irresponsáveis, para tentarmos mudar este panorama trágico. Assim, mo permito refletir com um ensaio humanista e devolver também para reflexão de todos, quanto ao papel que devemos desenvolver junto aos nossos jovens para que esta lei, não seja mais uma que não “pega”.

AjAraújo, médico e poeta humanista.
Texto Escrito em 28 de Junho de 2008, atualizado em 2011.

Imagem: James Dean (1931-1955), última fotografia em vida no dia do acidente fatal com seu Porsche, contando apenas 22 anos.

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Cuidar de uma pessoa idosa é como cuidar de um filho que vai re-nascer.

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O amor não tem idade, época ou estação: escrito especialmente para minha mãe – Eutália – com 87 anos, bastante lúcida, mas também muito debilitada – por várias razões, não somente atribuíveis à idade madura.

A pessoa idosa precisa essencialmente ter “cuidados com amor sem posse ou uso utilitarista ou benefício monetário”, ou seja “ser cuidada com generosidade, doação, compromisso e dedicação”.

Ela está melhorando e viverá com dignidade o tempo que Deus lhe conceder, apesar de tudo que sucedeu.

Há quem “ache que sabe cuidar de um idoso”, mas acaba “seu descuidado” sendo uma catástrofe, quando não faz o simples dever:
– de amparar (não somente para evitar quedas físicas, mas para prevenir as mentais, como quadros depressivos),
– dar conforto – sem precisar que seja luxo, não é isso o que o idoso pede -;
– garantir lazer e acesso a atividades ocupacionais que valorizem o “saber” do idoso, que possibilite que se mantenha antenado com o mundo;
– escutar sem julgar, remediar as “feridas” da vida oriundas do caminhar, como as frustrações;
– valorizar a “sabedoria” da pessoa idosa, decididamente ela “não é inútil” e nem deverá a ela parecer-se como um “estorvo”;
– cuidar para que tome os medicamentos – muitas vezes entender que ela se rebela, mas acaba com jeitinho aceitando -;
– que propicie uma alimentação balanceada, variada e adequada às suas necessidades;
– que leve regularmente para avaliação junto à equipe de saúde e, não apenas quando perceber que há uma urgência ou emergência médica;

Acima de tudo que dê carinho, atenção e proteção!

Cuidar de um idoso – ainda mais quando se é a própria mãe – não é só fazer “programa da Xuxa”, ou seja, não é só beijinho e tchau, tchau.

Cuidar de um idoso não é definitivamente:
– se apropriar/sequestrar/privar de seus bens – como se fosse uma herança antecipada -,
– não é privá-lo de coisas básicas materiais necessárias ao seu bem estar.

No tocante a espiritualidade, fortalecer os seus laços espirituais – independente da fé que professa – e prepará-lo para a transição.

O idoso têm muito a nos ensinar, ele é uma janela de oportunidade para visualizarmos a ante-sala do futuro e, ainda a tempo possamos corrigir os rumos de nossa vida, questionarmos crenças & hábitos, e buscarmos outras atitudes diante da vida, pois a sua velhice antecipa fatos do que poderá nos suceder.

Finalmente, cuidar do idoso é, antes de tudo isso, um ato de amor!

Em minha concepção espiritual, cuidar do idoso é como cuidar de uma gestação, fazer o “pré-natal na barriga aberta do mundo” para o seu re-nascimento em outro plano astral, como um “novo bebê” que sai da cena terrena para a vida espiritual.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 9 de janeiro de 2014, inspirado nos cuidados que requer a minha querida mãe Eutália, extensivo a todas as pessoas idosas.

Imagem (cima): Diego VELASQUEZ (1599-1660), quadro: “Mulher Idosa fritando ovos enquanto um jovem a observa”.

Imagem (baixo): Mattias STOM, (1600-1650), pintor flamenco, quadro: “Mulher orando com o terço”. (Lembra minha mãe antes de deitar-se).

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A ceia inesquecível: crônica de natal com os sem teto.

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Era véspera do Natal, na cidade do Rio de Janeiro, em 2001. Não fazia muito tempo eu retornara de Nova Iorque onde presenciara cenas de intolerância, destruição e mortes de vidas inocentes na fatídica data de 11 de setembro.

Tal como lá, as lojas do Centro da cidade estavam cheias, e já se preparavam para cerrar as portas, nas ruas havia algazarra e muita correria.

Nesta época do ano é meu costume caminhar pelas ruas, fugindo da atmosfera consumista dos shoppings. Deixe-me explicar: sinto sempre em meio à atmosfera de compras e festas, uma sensação de vazio quando diviso com o olhar de personagens anônimos do Natal que não frequentam lojas, para comprar roupas, sapatos, brinquedos.

São estas figuras da noite, estiradas nas marquises, após a farta coleta de caixas de papelão, latinhas de cerveja e garrafas de pet (que finalmente encontraram um destino para reciclagem após entupirem rios, córregos e galerias).

Estava passando próximo a uma marquise de banco quando surgiu uma janela de oportunidade, para que me aproximasse de “meus próximos”, mas “tão distantes” seres que no cotidiano nos projeta uma ambivalência, ou seja, nos faz “sentir incluídos” e ao mesmo tempo, “lhes sentir excluídos”.

Este conto, que chamei de crônica de natal, foi para mim, motivo de reflexão sobre a ceia de natal, o espírito que rege este dia e o menino-Deus na manjedoura, que poderia estar em cada esquina ou marquise de nossas cidades, com outra Maria e o seu carpinteiro José, buscando o abrigo que lhes fora negado.

Saibam, bem que poderia ser uma história real, o meu conto, ou quiçá, se pareça uma mera ficção. Mas, de fato, ele pode ter escapado da crônica policial, pois, não houve convicção no relato…

Contudo, ainda que fosse uma história virtual, nestes tempos das maravilhas da informática poderia ser mero boato, ou criação de poeta, e não ocupar nota – que pretensão – na coluna social.

A mesma história se repete a cada virada de ano: jogos de búzios e cartas, astrólogos, videntes etc., todos com suas previsões.

Estas coisas encontram bastante espaço na mídia, que se repete, e há quem ache chato, mas ao abrir os jornais, por via das dúvidas, dá uma olhada para o lado e, de relance uma espiada no horóscopo.

Eis que finalmente surge o conto… (e já não era sem tempo). E não era tradicional, talvez um pouco vulgar, que mesmo depois de pronto, insiste em se recriar e se transformar em história nacional, inserida no contexto do lugar, qualquer lugar…

Como em um quebra-cabeças foram se juntando as peças. A rima da narrativa não encontra alternativa. Há que se falar do conto, ou quiçá do canto, pois no ritual do silêncio se transformou em pranto, então eis o conto em forma de poesia de natal…

Nem nas viagens gramaticais
Pode avançar a carroça da história
Sem que se dê conta da magia,
Da presença de seres angelicais

Recolhendo rejeitos (consumismo), caixas
Na penumbra da noite sem canseira,
Que utilizam papelão e jornal como manta
Olham esta correria com (a mesma) indiferença
Poderia ser uma mera presunção
De um poeta sem qualquer precaução
Querer fazer das ruas, um tablado
Interpretar o teatro vivo do cotidiano

Tomando do pintor uma aquarela e o pincel
Que retrataria o coração pulsátil,
De histórias que ciclicamente se repetem,
Nuas e cruas, nas vilas e ruas acontecem

De Cervantes a Charles Dickens,
De Victor Hugo a Dostoievski,
De Eduardo Galeano a Cecília Meireles
De Carlos Drummond a Mário Benedetti,

Mas onde estará o conto no verso, se o livre discorrer já não retrata o livre viver?

Talvez nas contas de um terço orando silenciosamente, expresse a fé de uma simples mulher, sob a marquise, a revelar com o lenço e olhos fixos, a presença de um estranho naquela cena de profunda intimidade espiritual.

O seu olhar penetra meu ser, com uma leveza d’alma que quase me leva a levitar, ao receber em suas mãos as sacolas, com o que eu imaginava que ela supunha serem quentinhas para o jantar.

Ela revela um breve sorriso, só possível de se fazer ouvir na leitura labial, o seu gesto de agradecimento foi muito tocante.

Então, fiquei impassível (confesso, até certo ponto, curioso), à respeitável distância, acompanhando o desenrolar do ato que me comoveu de forma muito profunda.

Aquela senhora, cujo nome sequer eu ousei perguntar (afinal não eram necessários tantos protocolos, identidades etc. para este ato), abre cuidadosamente as sacolas e, quando desvela o conteúdo, vê tratar-se de comida e frutas, para àquela altura, uma inimaginável sagrada ceia de Natal.

E antes que eu tivesse tempo de lhe
entregar o vinho e o panetone, que estavam em uma terceira sacola, eis que ela acena para outros tantos no abrigo da marquise, para que soubessem do inesperado presente oferecido pelo desconhecido cavalheiro.

Em seguida, eu ofereci a sacola, ao que prontamente ela assentiu com a cabeça, deteve-se por um instante a mirar o rótulo da garrafa de vinho.

Aquela senhora e todos os quatro moradores de rua acocoram-se sob a marquise. Ela estendeu um largo papelão como toalha, e antes de partilharem aquele jantar improvisado, juntaram-se em uma prece.

Considerei que minha missão estava cumprida e, assim fui saindo de mansinho, ainda a tempo de me virar ao ouvir um deles chamar-me e dizer “hein, hein moço, muito obrigado”.

Ao longe percebi que a senhora da marquise dividiu a cesta das sacolas, transformando em milagre da multiplicação para compartilhar com aqueles que estavam em sua volta, acredito que não lhe importaria quantos eles fossem.

Cativado por esta altruísta demonstração, busquei no encontro dos olhares, a paz daquela noite, e escrevi estas quadras já no caminho de retorno a minha casa.

Não foram precisos títulos outorgados
Tampouco protocolos e etiquetas estilizados
Na verdade, somente poucos gestos singelos
Não eram estereotipados, e sim espontâneos

Para que os elos da corrente
Se abrissem em plena marquise,
E o silêncio contemplativo da noite
Da distante Belém se quebrasse

Para que a universal linguagem do amor
Do chão brotasse, e irradiasse,
E assim se fizesse presente,
No simples desejo de reunir os despojados.

Em improvisada mesa de papelão
Na calçada cansada de tantos passos
Para uma ceia sem estampas,
Em verdadeiro espírito natalino.

Nada a comemorar!
Ou tudo a comemorar, nesta vida sofrida
O encontro acontece por simples ato de doação.

Epílogo
Esse relato é de uma situação que aconteceu na Praça Tiradentes, centro da cidade do Rio de Janeiro. Em meio a tanta indiferença, aquele Natal para mim fez muita diferença, qual seja, a de reduzir a distância entre os seres humanos, por um simples ato de solidariedade e amor ao próximo.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito no natal de 2001.
* Na narrativa acabei por juntar elementos do microconto e da poesia, espero que o leitor possa apreciar esta síntese e se emocionar, como àquele tempo (e ainda hoje) esta narrativa me faz.Imagem: David Hoffman ~ Pessoas sem teto recebem a ceia de natal.

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Natal de Luzes

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Cenário
Era uma noite bastante fria, não havíamos conseguido mudar o voo de Sarnia para Toronto, e tivemos que fazer uma longa viagem de Brighton para Sarnia, e passamos a noite de Natal em um resort neste porto na região dos grandes lagos do Canadá. No dia seguinte embarcaríamos em direção a Montreal.

Na estrada entre Brighton e Sarnia passamos por longos trechos cercados pelos resistentes pinheiros cobertos de neve, lagos congelados, e as assustadoras “nuvens fantasmas” que surgem do nada e atrapalham a visão do motorista.
Ao cortarmos caminho por uma estrada vicinal pudemos ver a beleza de pequenos casebres com suas chaminés e decorações natalinas.
Ao chegarmos ficamos encantados com o espetáculo de luzes e neve ao longo de toda a região portuária da cidade de Sarnia. A neve caindo em finos flocos, as figuras típicas do natal decoradas ou desenhadas com luzes néon.
Eram 20 horas, na véspera do Natal, quando após os procedimentos de chegada no Resort, nos dirigimos, eu, meu filho Victor Hugo e o amigo canadense William para o local do espetáculo em campo aberto denominado “Natal de Luzes”.
O local coberto de neve, era frequentado por um bom número de turistas, nevava, mas felizmente não chovia. O frio era intenso, algo como 2 graus negativos, com temperatura percebida de menos 5 graus Celsius (ah, aqui no Canadá, eles utilizam o sistema Fahrenheit).
A neve cobria as longas botas com galochas (só me lembrava de ter usado na época do curso primário), e era uma sensação indescritível ver a alegria incontida daquelas crianças entrando nos diversos brinquedos iluminados de forma magistral, artística.
As crianças trajadas como esquimós se divertiam nas casinhas de madeira com seus pais, arremessavam bolas de neve e seus olhinhos saltavam das órbitas, pois algumas horas depois, aguardariam a chegada de Santa Claus, Oh! Oh! Oh.
Havia previsão de uma forte nevasca para aquela noite, mas o natal de luzes desafiava o rigor do tempo.
Nunca havia passado uma noite de natal no hemisfério norte, foi uma experiência maravilhosa, na antevéspera havíamos feito a ceia antecipada junto com os familiares de William, o nosso companheiro de jornadas, próximo de completar 75 anos, havia sido um caminhoneiro de cargas de amianto.
Após um breve jantar em um restaurante típico canadense – aliás um dos raros estabelecimentos ainda abertos àquela hora, ou seja, 21 horas – nos dirigimos para o Resort, onde passaríamos a virada da noite de natal. O Resort estava quase vazio, além de nós, havia somente mais 5 hóspedes que se deslocavam em viagem de negócios segundo a recepcionista.
Durante a madrugada, as previsões se confirmaram, caiu uma grande nevasca na cidade, ao acordarmos a neve cobria próximo de 30 cm – isso mesmo – no asfalto. Alguns veículos corta-neve passavam nas ruas principais e calçadas tentando desobstruir os acessos.
Após um típico café da manhã com lombo canadense, salsinha alemã, torradas e batatas raspadas, acompanhadas de chocolate, ficamos apreciando o tempo que nos impedia de sair lá fora. O resort ficava ao lado de uma grande ponte que ligava a cidade de Sarnia aos Estados Unidos.
Mais tarde, parou de nevar e diminuiu o nosso temor de não podermos viajar, pois as condições de voo não seriam favoráveis para decolar. O nosso bom amigo junto com a companheira Mary nos pegou no Resort e nos convidou para um “brunch” beneficente que começaria às 12 horas.
Qual não foi a nossa surpresa que o local era um cassino e que já havia várias pessoas “fissuradas” na entrada aquecida, para jogarem. Alguns comentavam o absurdo do cassino fechar a partir das 6 horas da tarde na véspera do natal e só abrir às 12 horas do dia seguinte, “… afinal como nós vamos nos divertir, não estamos interessados na noite de natal”.
Era impressionante a quantidade de pessoas idosas, algumas em cadeira de rodas mecanizadas, outras com “andador” ou portando bengalas. Logo que abriram o cassino, muitas sequer foram lanchar, logo se dirigindo para uma das máquinas caça-níqueis, jogos de pôquer em terminais eletrônicos ou, mesmo para a tradicional roleta ou, ainda para a mesa de “blackjack”.
O meu amigo explicou que muitas pessoas eram solitárias, ou ranzinzas e tinham no cassino, o seu local de sofrimento e prazer, afinal, dizia: “… de uma forma ou de outra querem gastar o dinheiro das pensões ou de herança, mas nem todos “são viciados” em jogo, às vezes ficam algumas horas, jogam 20 dólares e vão embora, voltando dias depois…”.Após o “brunch” nos dirigimos para o Aeroporto de Sarnia e foi emocionante a despedida com a generosa oferta de presentes do casal de amigos canadenses.
Ao embarcarmos, sentimos um frio na espinha, como se diz em nossa gíria, pois era um pequeno jato bimotor Cessna com apenas 12 lugares, a pista estava tomada em neve, e houve um trabalho exaustivo da equipe de segurança de voo para limpar toda a neve do pequeno bimotor e abrir caminho na pista.
A despeito do estado da pista, o Cessna decolou e em poucos minutos já estava a mais de 10 mil pés de altura e voávamos com segurança. Chegamos a Toronto a tempo de tomar o voo para Montreal e assim deixamos para trás a província de Ontário e a região dos grandes lagos e uma família adorável que nos recepcionou com um carinho inimaginável.

Epílogo
Esta foi a maior aventura que tivemos, eu e o Victor Hugo, em um dia de natal, chegamos à noitinha em Montreal, havia tido nevascas há poucos dias e um jovem com fluente francês nos orientou através de um GPS no celular, a chegar ao nosso hotel. Parecia que mudávamos de país, mas agora estávamos na província de Quebec e novas aventuras nos aguardariam nos poucos dias que nos restavam para visitar Montreal e a velha cidade de Quebec.
Mas estas são outras histórias, para contar em outro momento.

AjAraujo, o poeta humanista relata a aventura vivida em Sarnia, na região dos grandes lagos, na província de Ontário, no Canadá, durante o Natal de 2012.

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Caminhar pela vida, correr do cigarro – parte 1.

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Tabaco e as Corridas – Parte 1: Introdução

As pessoas que realizam caminhadas ou corridas regulares têm efeitos imediatos no seu estado de humor.

Este fato tem sido documentado na literatura médica, através de estudos que relacionam a capacidade física a testes psicométricos.

Esta informação é muito importante para a pessoa que pensa em deixar de fumar, mas teme em ficar deprimida.

Há evidência clínica que o comportamento das pessoas que correm são menos propensas a ter episódios de depressão, ansiedade e hipocondria.

Em geral, as caminhadas e as corridas provocam um aumento progressivo da auto-estima, do bem estar físico e mental e, por conseqüência da forma de encarar os problemas da vida.

Isto tem a ver com a direção que daremos à nossa vida. E, claro que se relaciona com as escolhas e as decisões que tomamos.

No caso do cigarro, a ambivalência (querer deixar versus seguir fumando) tão presente no fumante, a qual leva a que permaneça em uma situação de conflito permanente, pois 80% sabem dos riscos de continuar fumando, todavia nem sempre alcançam os benefícios futuros da parada.

O desafio de superar esta ambivalência, sem dúvida, pode começar através da mobilização do indivíduo por uma melhor qualidade de vida.

Fumar é incompatível com este sentido dado à existência, mais cedo ou mais tarde a chance de ocorrer um evento agudo, p. ex., infarto ou derrame cerebral ou crônico (enfisema e doença isquêmica coronariana), é grande.

E quando falamos em qualidade de vida pensamos de imediato em alimentação equilibrada, boa higiene do sono, redução da carga de trabalho e do estresse e, acima de tudo, um melhor condicionamento físico e mental, dentre outros fatores.

E onde podemos buscar este equilíbrio tão necessário a um melhor funcionamento do nosso organismo?
Certamente, a prática de exercícios físicos regulares permitirá alcançar este equilíbrio, integrando-se às demais medidas necessárias a uma real mudança do estilo de vida.

Caminhar e correr auxilia nesse sentido, pois durante o exercício é liberado um hormônio chamado endorfina que causa bem-estar nas pessoas, fazendo com que a dependência da nicotina diminua.

O tempo de recuperação do fôlego é individual, mas o importante é não deixar de fazer exercícios.

A circulação então melhora consideravelmente, mantendo limpos os canais do corpo das impurezas que podem se acumular em decorrências de uma vida sedentária, potencializada por uma alimentação desequilibrada.

As pessoas que correm estampam uma expressão facial de felicidade. Os músculos contraem-se e relaxam em harmonia.

A sensação de felicidade dos corredores irradia e contagia a quem encontram nas calçadas.

Em nossa prática clínica temos exemplos de fumantes que tinham uma vida completamente sedentária e que já durante o tratamento para deixar de fumar, iniciaram conforme nossa recomendação, pequenas caminhadas, entre 20-40 minutos, três vezes por semana.

Os relatos são impressionantes, alguns se tornaram maratonistas e, nunca haviam corrido, a não ser para pegar uma condução, quase sempre com pouco fôlego, pelo excesso de monóxido de carbono que tinham no sangue.

Assim, já durante o tratamento para deixar de fumar, aliado às outras medidas terapêuticas para aumentar a motivação e minimizar os sintomas da abstinência é sumamente importante que a pessoa fumante pratique exercícios, começando com uma simples caminhada.

Afinal, quando se busca livrar-se de uma dependência tão arraigada como o tabagismo, caminhar ou correr não é um sacrifício, pelo contrário, é algo prazeroso e necessário para o fumante recuperar as forças e a alegria no viver.

AjAraújo, o poeta e médico humanista, texto escrito sobre a importância das corridas para ajudar o fumante a deixar o cigarro, em agosto de 2007.

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Depressão: quem já não teve?

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Em resposta a uma pessoa que me indagava sobre as expressões “tristeza, melancolia e depressão”.

Ao referir-me à palavra “triste”, entendo como uma sinalização de que algo que não vai bem na vida da pessoa, e que na minha experiência, pode ser algo passageiro ou, até mesmo uma das formas de visibilidade de um estado depressivo.

Os distúrbios distímicos são muito frequentes e, em geral, o senso comum é de rotular alguém como sendo assim assado e não de o de interpelar, acolher, encorajar a procurar ajuda.

A maioria das depressões são “mascaradas” por outros sintomas físicos, levando muitos profissionais a buscarem outras explicações para o mal estar e a estabelecerem outros diagnósticos.

Assim se pode incorrer no erro de tratar de forma superficial este tema e minimizar as suas consequências.

A depressão pode significar algo mais profundo, pois se relaciona com o “holos”, com o todo, não dá para ver o indivíduo como partes que adoecem – este olhar é vago e incompleto – e que precisam ser “tratadas” isoladas do seu contexto mais amplo.

Este envolve a “pessoa como um todo – mente, corpo e espírito”, o meio onde está inserida, seja trabalho, escola, comunidade, estado, país e, as suas perspectivas e projetos de vida.

A depressão há algum tempo passou a ser um dos principais problemas de saúde pública no mundo, mascará-la, duvidar da sua existência ou minimizar os seus sintomas podem contribuir para o seu agravamento, a sua cronicidade e mesmo, o surgimento de quadros de outros distúrbios psiquiátricos, e até mesmo, a auto-privação da vida (suicídio).

Penso que um dos compromissos fundamentais do ser humano é com a preservação da vida, não somente da sua vida em particular, mas do conjunto de outros seres humanos.

Três características nos chamam atenção quando pensamos na espécie humana: os princípios da VULNERABILIDADE, da ALTERIDADE e da TRANSCENDÊNCIA.

O homem, dentre todas as espécies, é o único ser que não consegue sobreviver sozinho após seu nascimento (VULNERABILIDADE).

O homem é um ser relacional, por natureza, e a sua existência está diretamente relacionada à existência do outro, de outra pessoa (ALTERIDADE).

O ser humano sempre é mais, qualquer que seja a sua origem étnica, posição social ou padrão de vida, a possibilidade de sonhar, de desafiar, de transformar, faz do homem um ser em transcendência, viabiliza a eterna busca do desenvolvimento de uma espiritualidade, de alcançar um lugar no cosmos, de transcender a própria vida terrena para um outro espaço de luz e, nela se fundir.

Por isso, acredito que é, antes de tudo, um compromisso, um convite permanente a preocupar-se com o bem estar do outro.

Isto é fundamental para que a nossa evolução, o nosso crescimento, a construção de um mundo melhor para as gerações vindouras, seja perseguido como uma meta cósmica de nossa passagem pela gentil escola que se fez plantar na terra e onde fomos acolhidos nesta breve e intensa escala espiritual.

A depressão pode ser até fonte inspiradora de pintores, poetas, compositores, artistas de modo geral, mas, se não for cuidada pode também destruir (ou levar à auto-destruição) uma pessoa e seus sonhos.

AjAraújo, o poeta humanista, refletindo sobre a depressão a partir de uma orientação solicitada na grande rede, em Agosto de 2003.

Arte por Edvard MUNCH ~ Melancolia (1894)

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A cegueira social

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“É necessário sair da ilha, para ver a ilha. Não nos vemos, se não saímos de nós.” (José Saramago)

Esta é a diferença substancial para aqueles que acreditam e lutam para tornar reais os sonhos de tanta gente secularmente excluída da riqueza de nossa pátria.

É uma pena que muitos só consigam enxergar os seus próprios umbigos, a cegueira foi um dos clássicos livros que depois virou filme do Saramago, ela mostra o quanto as pessoas podem se comportar no egoísmo cego, mesmo que privados coletivamente de suas visões.

Mas o pior para mim é a miopia deliberada, quando não queremos ou não aceitamos ver a vida do próximo melhorada.

Quando o indivíduo alvo de comparação já for rico é como se o sujeito sentisse certa idolatria, uma admiração mais do que uma inveja, pois sonha chegar a ser como ele.

Entretanto quando o indivíduo é pobre, é um acinte, uma abominação qualquer medida que promova a sua ascensão social.

A reação é de outro espectro: o sujeito sente-se ameaçado na sua condição ou status quo, ah, quanta pobreza de visão social, está ancorada no conforto de mesas abastadas e mentes egoístas.

AjAraujo, o poeta comenta postagem daqueles que criticam os programas de inclusão social e de combate a miséria no Brasil.

Arte em Mural de Rua: “Não vai ter copa”, Brasil.

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A precarização da saúde

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Paciente x Médico, Médico x Empresa: qual o paradigma destas relações?
A banalização da saúde, a promoção da “doença”.

GOSTARIA DE PROPOR UMA RE-FUNDAÇÃO
NA RELAÇÃO MÉDICO – PACIENTE
QUE NÃO FOSSE MAIS UMA RELAÇÃO DOMINANTE
QUE SE TRANSFORMASSE EM EFETIVA PARTICIPAÇÃO.

Que ao invés de paciente, se chamasse atuante,
Que a relação se fundasse nos pilares sólidos da compreensão
Da solidariedade, do respeito mútuo e, fosse assim pactuante
De uma nova forma de práxis médica.

Que se busque todos os meios para minimizar as dores
Mas que os avanços da tecnologia não nos torne credores
De outras dívidas, além do custo social, a da perda da identidade
De cuidador e cuidado, limitados pela venda dos planos de ´saúde´

Desde Hipócrates, o discurso de formatura
De defesa implacável e promoção da vida
Se choca ante aos escusos interesses do capital na doença
Fonte essa de todos os lucros e comércio que tantos nos avilta

A cada dia que passa, é mais desigual o acesso
Às maravilhas modernas na engenharia genética e aos medicamentos
Aos transplantes de células-tronco e avanços da nanotecnologia
Tudo depende de quanto se está disposto a pagar na fatura…

A mercantilização da medicina,
Coloca-nos diante de um limbo
Não mais de um outrora consagrado Olimpo,
Pois esta banalização em agentes de um negócio nos transforma.

Como pode a vida virar um artigo de mercado, uma mercadoria?
Como revitalizar a tradicional relação médico-paciente
Ante aos patamares aviltantes de uma relação médico-empresa
Como cuidar da saúde, ante o paradigma da doença, dominante?

Quando os cuidados com a saúde deixam de ser Dever do Estado
E passam às mãos dos inescrupulosos senhores do mercado
A vida humana se torna um farto shopping de procedimentos
Ditados pela sanha de venda de serviços ´médicos´

Quem estará preocupado com a promoção da saúde?
Quantos de nós avaliamos o custo-efetividade e a real utilidade
De tantas intervenções medicamentosas e cirúrgicas?
Afinal, quanto vale cuidar da vida, em seu sentido pleno?

Afinal, o quanto isso é prioridade
Para discutir em nossa sociedade
Impregnada por valores de consumo?
Ou para os empresários, agentes públicos, governo?

Enquanto isso, o paciente
Não consegue sair das teias que cerceiam sua alteridade
Submetendo-se compulsoriamente aos elevados custos
Da fatura mensal, comprometendo seus recursos parcos

Porquanto, nós médicos
Nos submetemos aos ditames do mercado dos planos e seguros
Abrindo muitas vezes mão de nossa própria dignidade
E afinal acabamos como cúmplices do mesmo sistema que oprime.

Urge mudar este quadro
SAIR DA RELAÇÃO MÉDICO-EMPRESA ULTRAJANTE
PARA UMA RELAÇÃO MÉDICO-PESSOA EDIFICANTE
Em outro paradigma, da ética e do valor humano.

Hipócrates certamente baterá palmas para tão ousada iniciativa
De médicos, professores, ´consumidores´, políticos, governantes
Que a clausula da Constituição, saúde como direito de todos
E obrigação do Estado, não seja apenas pétrea como dantes…

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em fevereiro de 2007.

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A luz das pessoas

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“Abra bem os olhos, não somente para ver, mas para sentir lá dentro d´alma, para ser imagem e espelho, refletir e se deixar tomar pela realidade da vida e se irradiar com a luz das pessoas.”

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 14-jul-13.
Arte por Mandy Tsung ~ portraits

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A ética da dignidade

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“Não me imponha a subserviência
como condição para a minha existência,
mais vale viver no cativeiro dos meus sonhos
e ideais do que viver na falsária liberdade
de seus propósitos e domínios.”

AjAraujo, o poeta humanista, pensamentos sobre ética.

Imagem: Caverna no Vietnam.

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