Dia do banho

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Mas você não ia para S. Paulo, compadre?
– Vou mais não compadre Zé, não vou trocar a seca daqui pela de lá.
Mas afinal não é tudo igual esta tal de seca, compadre Raimundo?
– Nadinha, compadre. Aqui a água tá chegando do velho Chico, lá nem com S. Pedro, a coisa tá feia. Já vão até decretar o dia do banho.
– É mesmo compadre? E porque o tal dia do banho?
– É que a coisa está tão feia, que já não tá dando pra tomar banho de cuia – esse que a gente tá acostumado – vai ter rodízio de banho.
– Rodízio de banho, pera aí, esta eu não entendi, não era para carro?
– Não, compadre, o sujeito vai pegar um vale banho por semana, vai ter dia e hora marcada e é só uma chuveirada, com aqueles regadores de planta que a gente usa lá na roça.
– Cruz credo, compadre Zé, então acho que é melhor a gente ficar por aqui pelo sertão, não demora muito a irrigação tá chegando e com ela vem um monte de abestados do sul pra tomar banho por aqui.
– Vai ser um tal de voo fretado pro banho no nordeste, eu já estou pensando em montar uma casa de banho, mas só com um detalhe, compadre Raimundo?
– Diga lá o que é homem?
– Eles que não abram a boca para dizer que a gente não sabe votar, vai voltar pra casa sem banho.
– Oxente compadre Raimundo, está com a moléstia? Vai falar assim com os caras.
– Vou, compadre Zé, eles agora estão sentindo na pele o que a gente sente há séculos, e antes os políticos só faziam obras da seca pra beneficiar os coronéis de bota e espora.
– É mesmo, compadre, com o Lula e a Dilma tem programa de cisterna, poço artesiano e a irrigação com o velho Chico.
– Então, deixa eles virem compadre, vamos mostrar que o povo daqui não só levantou prédio em São Paulo, mas também sabe a matar a sede destes ingratos.
AjAraujo, escrito em 31-10-14, a propósito da falta d’água em São Paulo.

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