​Saúde & Trabalho no Neoliberalismo: Parte I​I​ T​rabalho e doença ao longo do tempo

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Saúde e Trabalho no Neoliberalismo

Parte II

Trabalho e doença ao longo do tempo.

A) Tempos Ancestrais

Referências à associação entre o trabalho e o desencadeamento de processo saúde-doença foram encontradas em papiros egípcios e na civilização greco-romana. As tarefas de mais elevado risco eram feitas por povos escravos das nações conquistadas.

Hipócrates (460-375 a.C.) descreveu com singularidade o quadro de “intoxicação saturnina” em um mineiro, no entanto omitiu o ambiente de trabalho e a ocupação em seu clássico “Ares, Águas e Lugares”.

Segundo Berlinguer, o problema na época, não era apenas estar doente ou sentir-se doente, mas poder estar doente.

Lucrécio, um século antes da Era Cristã, com a sensibilidade e indignação próprias de um poeta, indagava acerca dos cavouqueiros das minas: “Não viste ou ouviste como morrem em tão pouco tempo, quando ainda tinham tanta vida pela frente?“.

Esta simples observação evoca ainda hoje reflexões e nos provoca a tomar atitudes frente às situações com as quais nos defrontamos no campo da saúde pública, como:
 A precoce perda de vidas humanas, como a mais dramática marca do trabalho sobre a vida dos trabalhadores;
 O desenvolvimento de uma ferramenta para estimar “os anos potenciais de vida perdidos”

Ovídio (23a.C.–17d.C.), “… cansados de tantos funerais, vendo inúteis os esforços dos médicos, os habitantes imploram a ajuda celeste”. (As Metamorfoses, Esculápio).

Plínio, o Velho (23-79 d.C.), em seu tratado “De Historia Naturalis”, ao visitar locais de trabalho, descreve impressionado o aspecto de trabalhadores expostos ao chumbo, mercúrio e a poeiras.

Faz uma descrição dos primeiros equipamentos de proteção conhecidos, máscaras, panos ou membranas de bexiga de carneiro para o rosto, iniciativa dos próprios escravos para atenuar a inalação de poeiras nocivas.

IDADE MÉDIA

Na Idade Média, escassos registros nos foram legados acerca da relação trabalho e saúde. Uma vez mais, as observações concentraram-se na atividade extrativa mineral, a partir do século XVI, a importância das nações estava diretamente ligada à quantidade de metais nobres extraídos, vital para o processo de colonização que ocorria no mundo.

Agrícola (1494-1555) e Paracelso (1493-1541) escreveram célebres tratados com descrição de quadros de doença de provável relação com o trabalho. Em seu livro post-mortem “De Re Metallica”, um capítulo é dedicado aos acidentes de trabalho e às doenças mais comuns entre os mineiros.

Sua descrição da “asma dos mineiros” sugere tratar-se de silicose, “…em algumas regiões extrativas, as mulheres chegavam a casar 7 vezes, roubadas que eram de seus maridos, pela prematura morte encontrada na ocupação que exerciam”.

Este cruel relato nos traz importantes ensinamentos: a mortalidade em determinados grupos humanos é mais elevada que em outros. Mineiros morrem antes e morrem mais.

A simples introdução de meios para ventilar as minas, como sugeria Agrícola, poderia proteger os trabalhadores. Portanto, não se tratava de um problema de natureza médica e sim tecnológica.

Em 1700, Ramazzini em seu livro “De Morbis Artificum Diatriba”, descreve com rara sensibilidade e erudição literária, doenças em mais de 50 ocupações. Às perguntas hipocráticas fundamentais na história e anamnese médicas tradicionais propõem que se acrescente: “qual é a sua ocupação”.

Era a fase dos “miasmas” e da alquimia, de predomínio do conteúdo empírico do conhecimento científico acerca do processo saúde-doença.

A Revolução Industrial

Os impactos nos primórdios da Revolução Industrial iniciada na Europa (Inglaterra, França e Alemanha), entre os idos 1760-1850, sobre a vida e a saúde das pessoas, foram objeto de inúmeros estudos.

Acidentes graves, mutilantes e fatais, acometeram os trabalhadores, não poupando sequer mulheres e crianças a partir de 6 anos (pela possibilidade de lhes serem pagos salários mais baixos). “Germinal” de Emile Zola legou-nos uma dimensão do que acontecia naquela época.

A situação só se modificaria com intensos movimentos sociais, que obrigou a políticos e legisladores, a introduzirem medidas legais de controle dos ambientes de trabalho.

Em 1802, como conseqüência dessa mobilização houve a redução da jornada de trabalho e a regulamentação de idade mínima para trabalhar.

Em 1833, o “Factory Act – Lei das Fábricas” ampliaria as medidas de proteção aos trabalhadores, incluindo a contratação de médicos para o controle de saúde, no local de trabalho.

Charles Thackrah, em 1831, em seu livro “The effects of the principal arts, trades and professions, and of the civic states and habits of living, on health and longevity, with suggestions for the removal of many of the agents which produce disease and shorten the duration of life”, sinaliza que as deploráveis condições de trabalho e vida predominantes na cidade, eram responsáveis pelo fato de haver taxas de doença e mortalidade mais elevadas do que nas regiões circunvizinhas.

Percival Pott (1713-1788) estabeleceu nexo causal entre câncer de escroto e trabalho em limpeza de chaminés, ouvindo “a opinião dos trabalhadores”. Villermé (1782-1863) introduziu a análise de morbidade dos trabalhadores.

Tanquerel des Planches (1809-1862), publicou o “Traité des Maladies de Plomb ou Saturnines”, baseado na observação de 1200 casos de intoxicação pelo chumbo.

William Farr (1807-1883) estudou o impacto das condições dos ambientes de trabalho na morbidade e na mortalidade em mineiros em diferentes regiões da Inglaterra, quantificando o excesso de morte (fundamento hoje do importante parâmetro de medida denominado de “risco relativo”).

São descritos também, desde aquela época, uma gama de efeitos mal definidos, como a fadiga, o envelhecimento precoce, o desgaste e alterações comportamentais.

Descrição como a do Dr. Auguste Delpech em trabalhadores intoxicados com o sulfeto de carbono (também usado como raticida) “… o que trabalha no enxofre não é mais um homem. Ele até pode continuar trabalhando dia após dia, mas ele nunca mais será capaz de ser uma pessoa independente. A depressão o afeta e ele perde sua força de vontade, sua auto-estima, sua memória, torna-se incapaz de trabalhar em outra atividade”.

Em 1902, a “Dangerous Trades Magazine” descrevia que em uma indústria de vulcanização de borracha (onde se utilizava sulfeto de carbono), haviam sido colocadas grades nas janelas do prédio, para evitar que os trabalhadores nos surtos maníacos se jogassem pelas janelas.

Este período caracteriza-se pelas grandes descobertas no campo da bacteriologia, das pesquisas com uso de microscópio, que teve em Pasteur o grande precursor. É valorizado o método científico na investigação sobre o processo saúde-doença.

Snow, na Inglaterra, utilizando a epidemiologia descreve com singularidade uma epidemia de cólera, estabelecendo relação de causa e efeito.

Ao final do séc. XIX e início do séc. XX, é concebida a OIT – Organização Internacional do Trabalho, consolidando-se no pós-guerra, com o Tratado de Versalhes, em 1918, no organismo regulador internacional nas relações entre o trabalho e o capital.

Desta época datam as primeiras e significativas Resoluções, Recomendações e Acordos Internacionais do Trabalho, que tornariam os países signatários responsáveis por adotar em suas respectivas legislações, a proteção ao trabalho da mulher, a de impedir o trabalho infantil, a de proteger os operários em trabalhos considerados perigosos, insalubres e penosos etc.

Afinal, qual o valor do trabalho, na sociedade moderna?

Segue nas partes III a VII.
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AjAraújo (Alberto José de Araújo), MD do Trabalho. Doutor em Ciências em Engenharia de Produção COPPE/UFRJ.

Imagem: Sebastião Salgado

Obras Consultadas:

1. Bartholo JR., RS Os Labirintos do Silêncio. Ed. Marco Zero Ltda. 1986.

2. Sodré, N W. A Farsa do Neoliberalismo. 6ª Edição. 1999. Graphia.

3. Mendes, R. Patologia do Trabalho. Atheneu. 1996.

4. Dejours, C. A banalização da injustiça social. Editora da FGV. 1999.

5. Antunes, R. Os Sentidos do Trabalho. Boitempo Editorial, 1999.

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Saúde & Trabalho no Processo Histórico e no Contexto do Neoliberalismo: Parte I Onde tudo começa…

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Ensaio: Saúde & Trabalho no Processo Histórico e no Contexto Político do Neoliberalismo.

Parte I

Onde tudo começa…

A saúde enquanto condição de vida e de exercício pleno da cidadania é fator determinante das relações sociais e do processo de produção.

A concepção e a proposição das ações em saúde, não surgem por um simples jogo do pensamento, mas têm origem na experiência concreta dos indivíduos com o mundo material objetivo, no processo histórico-cultural no qual estão inseridos, nas relações com as coisas e a natureza que o cercam e nas relações das pessoas entre si.

O conhecimento humano que se opera a partir da determinação do saber, está intimamente ligado ao conjunto de relações que constituem o tecido social e à sua estrutura econômica, política e social.

Resgatar a história do conhecimento é uma obrigação de todos que visualizam a ciência como arte. No campo da saúde, desde a época dos clássicos Hipócrates e Galeno à era atual da biotecnologia e da engenharia genética, grandes mudanças no pensamento científico se fizeram presentes.

Disponibilizar a energia, a inteligência e o compromisso, é antes de tudo, um ato de humildade.

Conquanto seja dado o caráter temporal, limitado e finito desses atributos humanos, a construção do futuro da humanidade se motiva na perspectiva do eterno, do ilimitado e do infinito.

O processo criativo humano – por sua pujança e poder transformador – transcende épocas, se imortalizando.

Afinal, qual o valor do trabalho, na sociedade moderna?

Segue nas partes II a VII.
************************************************

AjAraújo (Alberto José de Araújo), MD do Trabalho; Doutor em Ciências em Engenharia de Produção COPPE/UFRJ.

Imagem: Trabalhadoras da Chanel em greve, em 1936.

Obras Consultadas:

1. Bartholo JR., RS Os Labirintos do Silêncio. Ed. Marco Zero Ltda. 1986.

2. Sodré, N W. A Farsa do Neoliberalismo. 6ª Edição. 1999. Graphia.

3. Mendes, R. Patologia do Trabalho. Atheneu. 1996.
4. Dejours, C. A banalização da injustiça social. Editora da FGV. 1999.

5. Antunes, R. Os Sentidos do Trabalho. Boitempo Editorial, 1999.

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Pior que viver sem alma, é viver sem coração

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Vivendo em constante movimento nem sempre nos damos conta das nossas próprias turbulências interiores, quanto mais das dificuldades nos exteriores, de pessoas próximas a nós ou daquelas distantes, vítimas da exclusão social, na grande assimetria social do nosso tempo.

Recente recebi um destes emails em corrente que – por motivos que desconheço – faziam uma provocação ao fazer analogia com carros importados “sem teto” e com mulheres bonitas.

Ao responder ao missivista, admitindo – com extrema benevolência – que se tratasse apenas de uma “brincadeira”, nesse caso, disse ao moço: “Com todo o respeito que você merece – não brinque com a desgraça de quem quer que seja”.

A questão dos movimentos sociais de pessoas excluídas é algo muito sério que deve ser tratado com seriedade e solidariedade.

Existem duas formas de cegueira: a perda da visão por doença (genética ou adquirida) e o ocultamento momentâneo da visão daquilo que nos incomoda, que nos perturba ou que simplesmente repelimos.

Gostaria de citar Proudhon (França, 1848):
“…ESTE FERMENTO REPRODUTIVO – ESSE ETERNO GERME DA VIDA, O PREPARO E A MANUFATURA DOS IMPLEMENTOS PARA A PRODUÇÃO – CONSTITUI A DÍVIDA DO CAPITALISTA PARA COM O PRODUTOR, UMA DÍVIDA QUE JAMAIS ELE PAGA; E É ESSA RECUSA FRAUDULENTA QUE CAUSA A POBREZA DO OPERÁRIO, O LUXO DA INDOLÊNCIA E A DESIGUALDADE DE CONDIÇÕES. E FOI ISSO, MAIS DO QUE QUALQUER OUTRA COISA, QUE RECEBEU APROPRIADAMENTE O NOME DE EXPLORAÇÃO DO HOMEM PELO HOMEM.”

Meus caros leitores, a questão não é somente dialética, de termos e explicitarmos opiniões apaixonantes ou não, ela é também uma marca do compromisso ético-social que cada um de nós tem, em sua curta passagem terrena.

Compromisso este com a condição humana – de profunda vulnerabilidade (veja o caso de um recém-nascido – é impossível que sobreviva sem ajuda para se alimentar, ao contrário da grande maioria das espécies) e da alteridade (princípio que nos diz, que a nossa existência depende da existência do outro, da possibilidade de se estabelecer uma relação eu-tu).

Como acredito nesses princípios e também na Declaração Universal dos Direitos Humanos, penso que cada um de nós – sejamos higienistas, técnicos de segurança, engenheiros, médicos, enfermeiros e outros companheiros de áreas correlatas – temos um compromisso com a vida, que nos leva a atitudes de prevenção, correção e, eventualmente denúncias de riscos à vida humana e ao meio ambiente.

Por força deste compromisso, pertençamos a qualquer grupo que seja, é agradável e estimulante saber que ainda há gente que se sensibiliza, manifesta indignação, se comove e busca formas de apoio e luta para transformar a vida de milhões de excluídos de direitos elementares que existem em nosso país.

Os sem-teto, os sem-terra, os sem-emprego têm uma razão muito forte
para se arriscarem a lutar por esses direitos inalienáveis, resta saber o que nós com-teto, com-terra, com-emprego estamos fazendo para reduzir estas iniquidades.

Será uma grande perda para a luta pelas mudanças, se nos acomodarmos, de forma covarde, na falácia da ironia, da omissão e da acusação. Cada um de nós é importante neste processo.

Já imaginou se nos juntarmos a essa legião de pessoas abandonadas à própria sorte, na condição de sem-alma, sem-coração, sem-mente, sem-olhos, sem-ouvidos, sem-fala…

Abraços fraternos e que me perdoe algum excesso, se fi-lo, a intenção não foi senão a de sensibilizá-lo e a de parabenizar e estimular outros companheiros pelas palavras sensíveis que aqui registraram.

Cada um de nós tem um motivo justo para se indignar com esta situação e se mobilizar: eu gostaria de lhes dizer com muita emoção que sou filho de uma família de retirantes nordestinos sem-terra, que labutei junto a meu pai e irmãos, de fazenda em fazenda, como “meeiros”, comprando fiado na mercearia dos donos destes latifúndios, entregando sempre a parte do leão da produção e constantemente ameaçados de perder a casa de colonos.

Uma escravidão a qual muitos brasileiros ainda hoje se (obrigam) submetem.

Como mudar isto? Estudando, adquirindo consciência crítica e ajudando (retribuindo) a educar, informando e apoiando causas
tão ancestrais ao ser humano: a dignidade de sua própria vida.

AjAraújo, poeta e médico humanista[ex-lavrador e filho de retirante nordestino sem-terra, brutalmente assassinado há 17 anos], escrito em Dezembro de 2003, a propósito de um despejo de pessoas sem-teto e a grosseira comparação com um carro sem-teto.

Arte surreal por Wojtek Siudmak ~ Heart

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A banalização do sexo, a idolatria da idiotice: o efeito Big Brother

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Pode ser, que para muitas pessoas, este tipo de programa traga alguma diversão.
Contudo, o caminho apelativo que vem sendo trilhado pelo Big Brother Brasil está a mexer com a consciência e a responsabilidade de todos nós, brasileiros e brasileiras.Convido-os com este breve texto, a fazer uma reflexão, para quem sabe nos nos mobilizar a fazer ativismo por uma causa também justa, a de não banalizar as relações humanas, a de não vulgarizar o sexo – alimento da vida – e a mulher,

e, sobretudo, a de não achar que Globo rima com Bobo, e que nós sejamos um bando de idiotas assistindo o que eles querem nos impor e vender, mais grave, comportamentos, coisa delicada e preocupante, temos filhos, netos, amigos, etc.

ainda que já de algum tempo não assistamos este tipo de programa de futilidades, ou nem sequer liguemos neste canal, não devemos nos omitir por dever de ofício e cidadania, basta deste monopólio nas comunicações.

Vejam bem, já não bastavam 11 edições do BBB para a TV Globo e seus anunciantes seguirem apostando no vale-tudo em que se transformou este “programa” de extremo mau-gosto para seguir “arrebatando” os jovens e “inundando” os lares com o que tem de mais baixo nível a que se pode chegar em termos de relacionamentos humanos e do “topa tudo por dinheiro”

ou “por garantir os índices de audiência” ou, por parte das empresas patrocinadoras “ligarem” suas marcas a um produto de péssima qualidade que vulgariza, banaliza e escandaliza a cada “nova espiadinha” estimulada pelo outrora competente e ultimamente de uma grande vulgaridade, o jornalista Pedro Bial.

A TV é uma concessão pública, o direito duramente conquistado de liberdade de expressão nas suas mais diversas formas, inclusive artísticas e culturais, não está desassociado do dever de bem informar e de se responsabilizar com o que exibe, pois expõe a toda a sociedade a um “espetáculo circense” mais próprio dos tempos de Sodoma & Gomorra
[digo isto, sem nenhum sentido moralista ou falso-moralista aqui, fique bem claro]

do que de uma “trama” ou forma de arte contemporânea, ainda que de gosto discutível, mas que atrai as pessoas, além disso, para sairem da enrascada que se tornou exposta publicamente buscaram o caminho mais fácil, de “criar o monstro” de criminalizar o rapaz
[lembro que ele é negro e que isso seria certamente diferente se fosse um branco, sendo negro “cai” melhor a penalização imposta]

que fugiu as regras (é assim como denominam o que supostamente rolou, de um provável abuso sexual, ou mesmo estupro), de vitimizar a jovem e, tirar o corpo fora da emissora, tipo “não foi culpa ou falha nossa”,

é muita cara de pau, vejam que a versão da jovem mudou hoje, que “ela inclusive se recusou a fazer exame de corpo de delito” e que decerto foi orientada pelos advogados da empresa “admite que só houve carícias, nada demais”, então:

Porque o tarado “brother” foi expulso? Por que a “sister” permaneceu? São perguntas que a Globo não vai responder.

Espontaneamente brotou um movimento na internet denominado: “Quem financia porcaria é contra a cidadania”

E as pessoas estão enviando cartas para o ministério público federal e estadual, para a secretaria dos direitos das mulheres, para as empresas anunciantes deste “programa” e uma das respostas enviada pela FIAT (anunciante do programa) a uma das pessoas que enviou correspondência questionando por que eles patrocinam este “lixo”, foi evasiva.

Também devemos mandar para o OMO que “vai ter dificuldade de lavar tanta roupa suja do BBB”, para a Schincariol que “incentiva o consumo de álcool entre os jovens – principal publico do BBB” e outros.

É importante que cada um de nós se manifeste, encha as caixas de e-mail das ouvidorias destas empresas que patrocinam o BBB e também enviem para seus amigos recomendando o “boicote” aos produtos destes patrocinadores, bem como a Rede Globo de PorcaVisão (não dá prá chamar mais de Televisão).

Estas festas regadas aos mesmos ingredientes das festas RAVE e que outrora já tiveram a companhia do tabaco (edições anteriores do BBB), também devem ser evocadas nesta discussão,

afinal que modelo de comportamento este canal de TV aberta (não precisa pagar para dar espiadinha, há acessos diretos pela internet fora no horário após as novelas) está “enfiando” na cabeça de nossas crianças e jovens? Como os pais poderão controlar o acesso, se o espírito do programa é exatamente esse, o de expor os “brothers” 24 horas por dia, inclusive debaixo dos “edredons”?

Diz-se que “gosto não se discute”, há quem aprecie o BBB, deve ter suas razões, sejam elas quais forem, mas “mal gosto pode ser discutido, sim”, principalmente por nós, ativistas em defesa da vida.

Não devemos permitir que a Rede Globo que já editou debate entre candidatos para favorecer e eleger um presidente depois deposto (o Boni admitiu isto no GloboNews) venha ressuscitar a obra prima de G. Orwell – 1974 e dar uma de “Grande Irmão”, manipulando a sociedade, a classe política, o Estado, para “vender” seus valores e crenças, com esta história de “A Gente se vê por Aqui”. Não comigo e com você?

Em 2007 escrevi um texto a este respeito, disponível neste site luso-poemas:
Rostos têm muito a dizer (a respeito do Big Brother) http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=101839

Em 2012 um ícone da literatura de cordel na Bahia escreveu texto magnífico: BBB – um programa imbecil (Antônio Barreto):
http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=211571

Então, o que você pensa a respeito? O que sugere que façamos?

A tecnologia, o acesso a cultura, a arte e os costumes são essenciais para o desenvolvimento e progresso da humanidade, desde que eles não banalizem, nem vulgarizem a quem eles se destinam: as pessoas, as famílias, a sociedade.

AjAraújo, o poeta humanista, refletindo sobre o escândalo patrocinado pelo programa Big Brother Brasil, em 18 de janeiro de 2012.

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Milagre do amor

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Maria, simples mulher do campo
Imantada no chamado divino
Lenço à cabeça sol a pino
Anda léguas tiranas a fio
Gera o menino nordestino campesino
Rosto queimado, olhos serenos
Estranha o sinal do anjo enviado por Deus

Destemida, audaz, corajosa
Oscila feito ampulheta, inquieta

A luta na roça, de mortes e vidas severinas
Maria de tantos nomes, Fátima, Dores, Flores
O menino bole no ventre, que destino terá?
Reza, cuida do rebento, ela foi a escolhida.

AjAraújo, o poeta humanista, escrito em junho de 2010, homenagem à fibra da mulher nordestina.

Imagem: Candido Portinari – A descoberta da terra.

Veja o vídeo: Miracle of Love, por Gregorian Monks Masters of Chant.

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Aylan & Galip – Angelical

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Tributo aos Anjos do Mediterrâneo

Aylan, pequeno sírio de apenas 3 anos,
No mar Mediterrâneo aportou junto a,
Galip irmão e a seus pais corajosos,
Enfrentaram a última barreira para
Libertar-se da opressão e tirania do
Islâmico Estado armado pelo ódio
Cria das grandes potências ocidentais
A destruir os sonhos de tantas crianças
Leviatã do terror e horror dos massacres.

Uma criança morre de fome em sua terra ou
Morre de medo afogada em busca de refúgio
Abortado pelo mar, ou pela fronteira negado

Vida castigada pela guerra criada e mantida
Inocentes com o sopro vital ceifado em botão
De um mundo desigual, rico e indiferente
Assim caminha a (des)humanidade…

AjAraujo, o poeta humanista, destroçado pela morte dos irmãos sírios Aylan e Galip, em 2 de setembro de 2015.

Imagem por Zezo´s Cartoons localizada na internet em homenagem a Aylan.

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Crônica de um coxinha inveterado pelo golpe

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– Eh, está muito ruim a situação, antes sempre conseguia me safar “com meus conhecimentos” da malha fina, agora não tem jeito..
* Mas você não dizia que era contra a corrupção, bateu panelas à exaustão que teve até tendinite no punho, pediu fora Dilma… Não estou te entendendo, isto é uma confissão caro amigo, de fraude.
– Que é isso, “a gente já paga muito imposto” para sustentar esta gentalha de tanta bolsa que criaram…
* Mas não me queira mal, assim você está querendo uma “bolsa isenção de imposto de renda”, enquanto eles, a gentalha a que você se refere paga imposto na bucha, nos alimentos, nos salários, nas tarifas etc…
– Ah, está difícil hoje conversar com alguém esquerdista, com estas ideias comunistas, sabe de uma coisa, eu lhe digo “pode até está pior, mas ainda assim é melhor”, sinto prazer em ver esses miseráveis mendigando uma diária, um emprego e eu vou pagar o que quiser a eles.
* Então lhe digo, tome cuidado, que um dia a casa grande cai, a violência não começa “com eles”, e sim com atitudes dignas de um sujeito hipócrita, reacionário e escravagista como você, passe bem, ou melhor passe bem mal, porque se o mundo gira, a lusitana roda; a vida dá voltas… Você conhece o efeito bumerangue?
– Ah, não vem com essas baboseiras, eu já lhe disse, para mim é melhor que seja assim, até estou começando uma campanha do Fica Temer…
* Tchau, coxinha inveterado…
– Sabe gostei do elogio, vou aproveitar vou pegar meu baseado, que ele irá legalizar…
AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 1 de janeiro de 2017.

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Dia do banho

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Mas você não ia para S. Paulo, compadre?
– Vou mais não compadre Zé, não vou trocar a seca daqui pela de lá.
Mas afinal não é tudo igual esta tal de seca, compadre Raimundo?
– Nadinha, compadre. Aqui a água tá chegando do velho Chico, lá nem com S. Pedro, a coisa tá feia. Já vão até decretar o dia do banho.
– É mesmo compadre? E porque o tal dia do banho?
– É que a coisa está tão feia, que já não tá dando pra tomar banho de cuia – esse que a gente tá acostumado – vai ter rodízio de banho.
– Rodízio de banho, pera aí, esta eu não entendi, não era para carro?
– Não, compadre, o sujeito vai pegar um vale banho por semana, vai ter dia e hora marcada e é só uma chuveirada, com aqueles regadores de planta que a gente usa lá na roça.
– Cruz credo, compadre Zé, então acho que é melhor a gente ficar por aqui pelo sertão, não demora muito a irrigação tá chegando e com ela vem um monte de abestados do sul pra tomar banho por aqui.
– Vai ser um tal de voo fretado pro banho no nordeste, eu já estou pensando em montar uma casa de banho, mas só com um detalhe, compadre Raimundo?
– Diga lá o que é homem?
– Eles que não abram a boca para dizer que a gente não sabe votar, vai voltar pra casa sem banho.
– Oxente compadre Raimundo, está com a moléstia? Vai falar assim com os caras.
– Vou, compadre Zé, eles agora estão sentindo na pele o que a gente sente há séculos, e antes os políticos só faziam obras da seca pra beneficiar os coronéis de bota e espora.
– É mesmo, compadre, com o Lula e a Dilma tem programa de cisterna, poço artesiano e a irrigação com o velho Chico.
– Então, deixa eles virem compadre, vamos mostrar que o povo daqui não só levantou prédio em São Paulo, mas também sabe a matar a sede destes ingratos.
AjAraujo, escrito em 31-10-14, a propósito da falta d’água em São Paulo.

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Vias cruzadas

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Em qual hemisfério cerebral você se encontra agora?
Ah, em frente a máquina, no mundo virtual, quase já parecendo real?
Não? Em um parque, no mundo real, mas pensando no mundo virtual?
AjAraujo, escrito em 7 de setembro de 2014.

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Qual é o sexo? Neutro.

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Um microconto de improviso baseado nesta história: Justiça da Austrália reconhece gênero sexual neutro. (AFP, Neil Sands, 2-4-14).

Qual é o sexo? Neutro.
Ah, como assim: nem masculino, nem feminino. Então é “coluna do meio”, mas não tem esta opção no formulário, vou consultar o meu chefe para ver como faço, o sistema não avança sem marcar a opção.

E quanto ano nome John ou Joanne?
Nenhum dos dois.

Então como faço?
Escreva Jo, sem acento senão vira Jó que é masculino.

Mas não é o nome daquele jogador de futebol do Brasil Jô?
Não, cara pense neutro, é simples Jo, e não se fala mais nisso, vamos adiante, próxima pergunta.

Como quer ser chamado ou chamada?
Pera aí, nem chamado ou chamada, sou uma pessoa de gênero neutra, idiota.

Então como chamo uma pessoa “neutra”, será de neutron, electron ou proton? Chega de brincadeira, respeita a minha opção neutra. Cuidado que posso te processar por homofobia.

Epa, pera aí, então não pode ser homofobia, não será melhor falar em “neutrofobia”?
Está certo, de tanta neutralidade que às vezes até me confundo.

No formulário tem as opções Mr., Mrs. Miss?
Ok, faz o seguinte cria a opção Neutron People e estamos conversados.

AjAraujo, o poeta humanista, escrito em 2-4-14.

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